Narges Mohammadi, ativista de 51 anos, foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz 2023, em reconhecimento à luta pelos direitos humanos e pela liberdade no Irã, especialmente no que se refere à abolição da pena de morte e à igualdade das mulheres.
Narges já enfrentou 13 prisões e cinco condenações. Ao todo, foi sentenciada a 31 anos de prisão e a 154 chicotadas.
O Comitê Norueguês do Nobel elogiou sua determinação em enfrentar a opressão e destacou seu compromisso com a liberdade de todos: "Sua corajosa luta teve um enorme custo pessoal", relatou o Comitê em nota.
A carreira de Mohammadi
Narges começou sua trajetória como estudante de física nos anos 1990, posteriormente trabalhando como engenheira e colunista em jornais reformistas. No início dos anos 2000, ela se associou ao Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã.
A luta contra as restrições da região resultou em sua prisão em pelo menos 13 ocasiões, totalizando 31 anos de encarceramento.
Sua primeira detenção ocorreu em 2011, quando tentou auxiliar ativistas detidos, seguida de outra condenação em 2016, por ser porta-voz do Centro dos Defensores dos Direitos Humanos do Irã, um grupo de campanha considerado ilegal. Após uma das suas libertações, ela empreendeu uma missão contra o sistema prisional iraniano, com foco na denúncia de torturas e abusos sexuais cometidos contra presos políticos, especialmente mulheres, dentro das prisões do país.
Desde 2021, Narges cumpre uma pena de 12 anos na prisão de Evin, em Teerã, privada do direito de receber visitas. Essa nova sentença aconteceu após sua participação em um memorial em homenagem a uma pessoa morta durante os protestos nacionais de 2019, que surgiram em resposta ao aumento nos preços dos combustíveis.
"Mulher – Vida – Liberdade"
A dedicação de Mohammadi a transformou em uma das principais figuras da revolução desencadeada pela trágica morte de Mahsa Amini, 22 anos. A jovem estava de férias com sua família pelo Irã quando foi abordada pela polícia da moralidade, encarregada de supervisionar a conformidade das normas de vestimenta impostas às mulheres iranianas.
Mahsa foi detida sob a acusação de "uso inadequado" do véu, de acordo com as autoridades policiais iranianas. Dois dias após sua prisão, sob custódia policial, ela foi hospitalizada em estado grave, com lesões na cabeça, e morreu no hospital. Essa tragédia desencadeou um dos maiores movimentos de protesto contra o regime iraniano, que foi acusado de reprimir as mulheres.
De acordo com o Comitê do Prêmio Nobel, o lema adotado pelos manifestantes, "Mulher - Vida - Liberdade", reflete integralmente o trabalho e o compromisso de Narges Mohammadi:
- Mulher: ela lidera a luta em prol das mulheres contra a discriminação e a opressão sistemáticas;
- Vida: Mohammadi apoia a batalha das mulheres pelo direito a uma vida plena e digna. Esta luta tem sido alvo de perseguições, detenções, torturas e até mortes em todo o Irã;
- Liberdade: a luta é pela liberdade de expressão e pelo direito à independência, em oposição às regras que exigem que as mulheres se escondam e cubram seus corpos. As demandas de liberdade expressadas pelos manifestantes não se limitam apenas às mulheres, mas se aplicam a toda a população.
Cerimônia de Premiação
O Comitê encarregado do prêmio enfatizou, em comunicado, que conceder a láurea a Narges Mohammadi é uma honra a sua batalha pelos direitos humanos, pela liberdade e pela democracia no Irã. Além disso, o Prêmio da Paz deste ano reconhece as centenas de milhares de pessoas que, no ano anterior, protestaram contra as políticas discriminatórias e opressivas do regime teocrático em relação às mulheres.
Narges Mohammadi é a 19ª mulher a receber esse prêmio ao longo dos 122 anos de história do Nobel, sendo a primeira desde Maria Ressa, das Filipinas, agraciada em 2021, juntamente com o russo Dmitry Muratov.
O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, equivalente a cerca de US$ 1 milhão, será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro, marcando o aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que instituiu os prêmios em seu testamento de 1895.