O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Níger apoiou nesta quinta-feira (27) os líderes militares que mantêm detido o presidente Mohamed Bazoum, em Niamey, onde a junta acusou a França de ter violado sua decisão de fechar as fronteiras.
Os golpistas também anunciaram "a suspensão até nova ordem das atividades dos partidos políticos".
Os parceiros do Níger condenaram o golpe de Estado, mas a vizinha Burkina Faso, dirigida por um regime advindo de dois golpes de Estado em 2022, afirmou que deseja uma "cooperação mais estreita".
"O comando militar das forças armadas do Níger decidiu assinar a declaração das forças de defesa e segurança", indica um comunicado assinado pelo chefe do Estado-Maior, o general Abdou Sidikou Issa, com o objetivo de "evitar um confronto mortal entre as diferentes forças".
Horas antes, o presidente do Níger, Mohamed Bazoum, negou um golpe pelos militares que desde quarta-feira o retém no palácio presidencial da capital Niamey.
"Os avanços duramente conquistados serão preservados. Todos os nigerinos que amam a democracia e a liberdade vão zelar por isso", disse Bazoum em uma mensagem postada no Twitter, renomeada como X.
"O poder legal e legítimo é exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum", disse o ministro das Relações Exteriores e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, acrescentando que ele "está bem de saúde".
- Bandeiras russas -
Os militares golpistas pediram para que "a população tenha calma" após uma manifestação de apoio aos golpistas em Niamey, na qual os participantes ergueram bandeiras russas e entoaram slogans contra a França.
Perto da Assembleia Nacional, onde uma multidão repleta de bandeiras russas gritava "Abaixo a França, viva a Rússia". Enquanto isso, um grupo de jovens marchou para a sede do Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo (PNDS, no poder), a poucos quilômetros da manifestação, onde colocaram fogo em carros.
Ainda nesta quinta, os militares acusaram a França, que tem 1.500 soldados baseados no Níger, de ter infringido o fechamento das fronteiras, ao aterrizar um avião militar no aeroporto internacional de Niamey.
Os golpistas instaram "de uma vez por todas respeitar estritamente as decisões" tomadas pela junta, que inclui o fechamento preventivo das fronteiras terrestres e aéreas e um toque de recolher das 22h às 5h em todo o território.
Além disso, a junta também anunciou a suspensão de "todas as instituições".
Na noite de quarta-feira, e após um dia de tensão e rumores de golpe de Estado, militares rebeldes afirmaram em rede nacional que derrubaram o presidente eleito democraticamente, no poder desde 2021.
"Nós, as forças de defesa e segurança, reunidas no Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria, decidimos pôr fim ao regime" de Bazoum, declarou o major-coronel Amadou Abdramane, ao lado de nove soldados.
"Isso se deve à contínua deterioração da situação de segurança e à má governança econômica e social", acrescentou.
O militar assegurou que este conselho atende a "todos os compromissos assinados pelo Níger" e garantiu à comunidade nacional e internacional que as autoridades destituídas serão tratadas "conforme os princípios dos direitos humanos".
- Suspensão da ajuda humanitária -
Os parceiros do Níger, que incluem Estados Unidos, França e ONU, condenaram o golpe de Estado e pediram a libertação "imediata" do presidente, eleito democraticamente e no poder desde 2021.
A Rússia também pediu a "pronta libertação" de Bazoum.
Em um comunicado, a Comunidade Econômica de Estados do Oeste da África (CEDEAO) exigiu "a libertação imediata" de Mohamed Bazoum, "que segue sendo o presidente legítimo e legal do Níger reconhecido pela CEDEAO".
Por sua vez, a ONU "suspendeu" as operações humanitárias por causa do golpe no país, que vive uma situação humanitária "complexa", anunciou nesta quinta a organização. Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários (OCHA), o número de pessoas com necessidade de assistência no Níger passou de 1,9 milhão em 2017 para 4,3 milhões em 2023.
O Níger é um dos últimos aliados do Ocidente em um Sahel devastado pela violência jihadista. Mali e Burkina Faso, liderados por militares golpistas, aproximaram-se de outros países, como a Rússia.
Desde que conquistou a independência da França em 1960, o país sofreu várias tentativas de golpe, quatro delas bem-sucedidas, a última em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.
* AFP