Donald Trump colocou em perigo a "segurança nacional" dos Estados Unidos ao reter documentos contendo segredos nucleares após deixar a Casa Branca. É o que consta na documentação judicial divulgada nesta sexta-feira (9). O ex-presidente enfrenta 37 acusações, incluindo "retenção ilegal de informações de segurança nacional" e "obstrução da justiça".
Trump é acusado, ainda, de perjúrio e cumplicidade com seu assistente pessoal, Walt Nauta, também processado, por ocultar documentos solicitados pelo FBI.
A lei dos Estados Unidos exige que os presidentes enviem todos os seus e-mails, cartas e outros documentos de trabalho para os Arquivos Nacionais ao término de seus mandatos. Além disso, proíbe o armazenamento de segredos de Estado em locais não autorizados e não seguros.
— Temos um conjunto de leis neste país, e elas se aplicam a todos — disse o promotor especial Jack Smith, após a acusação oficial de que Trump se apropriou de documentos altamente secretos.
Ao deixar a Casa Branca em janeiro de 2021, Trump mudou-se para sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, e levou consigo dezenas de caixas cheias de arquivos secretos do Pentágono, CIA, Agência de Segurança Nacional (NSA) e outros órgãos de inteligência. Um ano depois, e após várias ordens judiciais, concordou em devolver 15 caixas contendo quase 200 documentos.
No entanto, o FBI considerou que ele não entregou tudo e continuava guardando documentos em seu clube de golfe em Palm Beach. Agentes do FBI realizaram uma busca no local em 8 de agosto e apreenderam outras trinta caixas com 11 mil documentos.
Segundo a acusação, foram encontrados documentos "em uma sala de festa", mas também "em um banheiro, no chuveiro", em "um escritório" e em "um quarto". O material encontrado incluía "informações sobre a capacidade de defesa dos Estados Unidos e de outros países", "sobre os programas nucleares americanos" e "sobre as vulnerabilidades potenciais em caso de ataque aos Estados Unidos e seus aliados".
— A divulgação (dos documentos) teria colocado em perigo a segurança nacional dos Estados Unidos e suas relações internacionais — afirmou Smith, nomeado em novembro para supervisionar a investigação de forma independente.
Na quinta-feira (8), Trump anunciou que tinha sido acusado pela Justiça federal por manipulação de arquivos da Casa Branca, algo inédito para um ex-presidente, e afirmou ter sido convocado para comparecer a um tribunal em Miami na terça-feira.
— Sou inocente — clamou em um vídeo publicado nas redes sociais, afirmando ser vítima de uma manobra de adversários democratas.
Atriz pornô e outros casos
Ao mesmo tempo, outro promotor especial investiga o caso dos documentos sigilosos encontrados no início do ano no antigo escritório e residência de Biden. Essas descobertas, juntamente com outras relacionadas ao ex-vice-presidente Mike Pence, permitiram que Trump minimizasse a gravidade das acusações contra si.
Ao contrário de Trump, Biden cooperou com a Justiça ao entregar voluntariamente todos os documentos, que eram muito menos numerosos do que os de seu antecessor.
Até agora, os republicanos têm apresentado uma frente de apoio a Trump, mesmo aqueles que estão concorrendo contra ele pela indicação presidencial do partido e que estão muito atrás nas pesquisas. O resultado das eleições seria crucial dado que uma vitória o protegeria da prisão.
Os problemas de Trump não se limitam a este caso. Uma promotora da Geórgia pretende divulgar em setembro o resultado de sua investigação sobre as pressões de Trump para mudar o resultado das eleições presidenciais de 2020 nesse estado.
Em abril, a Justiça de Nova York acusou Trump de fraude contábil relacionada a um pagamento feito em 2016 a uma atriz pornô para mantê-la em silêncio sobre um suposto caso amoroso. E o promotor Smith, cuja carreira inclui a persecução de criminosos de guerra no Kosovo, continua investigando o papel de Trump no ataque ao Capitólio, ocorrido em 6 de janeiro de 2021.