O Exército e as forças paramilitares, em guerra pelo poder no Sudão, retomaram os combates na manhã desta quarta-feira (21), logo após a expiração de um cessar-fogo de 72 horas amplamente respeitado em Cartum, segundo testemunhas.
Os moradores da capital acordaram com o fogo de artilharia e o barulho dos combates, poucos minutos depois do fim da trégua, que começou no domingo, à 01h00 (horário de Brasília), disseram à AFP.
Omdurman, um subúrbio ao norte da capital, foi alvo de "bombardeios de artilharia e combates" e "aviões de guerra" sobrevoaram outros bairros próximos, acrescentaram.
O Exército, sob o comando do general Abdel Fattah al-Burhane, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) do general Mohamed Hamdane Daglo, comprometeram-se a interromper todos os movimentos e ataques para permitir a passagem de ajuda humanitária nesse país do leste da África, um dos mais pobres do mundo.
Na noite de terça-feira, último dia da trégua, ocorreu um grande incêndio na sede da Inteligência de Cartum.
As FAR "bombardearam o prédio", violando a trégua, disse à AFP uma fonte do Exército.
Um "drone do Exército bombardeou o prédio onde as tropas das FAR estavam reunidas, causando o incêndio e a destruição parcial da sede da Inteligência", respondeu uma fonte das FAR.
A comunidade internacional, reunida em Genebra, prometeu na segunda-feira 1,5 bilhão de dólares em ajuda (7,1 bilhões de reais na cotação atual), ou seja, metade das necessidades propostas pelas organizações humanitárias.
Segundo a ONU, 25 milhões dos 48 milhões de sudaneses não podem sobreviver sem ajuda humanitária.
- Crimes contra a humanidade -
As tréguas anteriores foram violadas imediatamente após sua entrada em vigor.
Nesta quarta-feira, moradores relataram "explosões, fogo intenso e (bombardeios) em áreas residenciais" em Dilling, no Kordofan do Sul, 500 quilômetros ao sul de Cartum.
Darfur, uma vasta região no oeste do Sudão e que faz fronteira com o Chade, sofreu a violência mais grave desde o início do conflito.
De acordo com as Nações Unidas, em El Geneina, capital do estado de Darfur Ocidental, 1.100 pessoas morreram. As ruas estão repletas de corpos cobertos com roupas sob o sol escaldante e muitas lojas foram saqueadas.
Em uma gravação on-line na terça-feira, o general Daglo denunciou "um conflito tribal" em El Geneina, alegando ter ordenado seus homens a "não intervir", e acusou o Exército de "criar sedição ao distribuir armas" aos civis.
Os habitantes seguem em longas filas em direção ao Chade, sob o fogo cruzado dos beligerantes, mas também de combatentes tribais e civis armados.
Desde sexta-feira, "15 mil sudaneses, incluindo quase 900 feridos" fugiram para Adré, no Chade, a cerca de 30 quilômetros de El Geneina, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
No total, "550.000 pessoas fugiram para os países vizinhos", segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), e mais de "dois milhões" de sudaneses estão deslocados dentro do seu próprio país, afirmou o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Filippo Grandi.
Em Darfur, "o conflito agora tem uma dimensão étnica", alertaram a ONU, a União Africana e o bloco do leste da África, Igad.
A violência ali cometida pode constituir "crimes contra a humanidade", afirmaram.
* AFP