Em uma tentativa de reaproximação, Andrii Iermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, entrou em contato por telefone com Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos de política externa, nessa terça-feira (13). Iermak busca apoio para a realização de uma cúpula internacional pela paz, a ser realizada em um local de fácil acesso, fazendo parte de um processo de negociação.
Na ligação, o representante ucraniano ressaltou a importância da participação do Brasil. Conforme o portal g1, Lula tenta liderar uma iniciativa com um grupo de países neutros que possam intermediar as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
O diálogo entre Amorim e Iermak faz parte da iniciativa de Kiev em buscar a adesão de países do Sul Global para a cúpula de paz, que tem como objetivo discutir soluções para a Guerra na Ucrânia. Nessa terça-feira, o chefe de gabinete ucraniano também conversou com Ajit Kumar Doval, conselheiro de segurança nacional da Índia.
Segundo o governo brasileiro, a ligação de Iermak para Amorim foi considerada "muito positiva" e contribui para aliviar as tensões na relação entre Brasil e Ucrânia, que foram prejudicadas por declarações de Lula vistas como favoráveis a Vladimir Putin.
Após o desencontro entre os presidentes Lula e Zelensky na cúpula do G7, no Japão, em 21 de maio, não havia ocorrido nenhum contato entre os altos escalões dos governos brasileiro e ucraniano. Durante a estadia em Hiroshima, o Itamaraty afirmou ter oferecido três horários para Zelensky, mas ele acabou não comparecendo ao encontro.
Conforme o jornal Folha de S. Paulo, o presidente ucraniano se isentou da culpa pelo incidente, mas não explicou o que de fato aconteceu. Ele também ironizou as propostas de Lula para mediar a paz, referindo-se sarcasticamente às tentativas do brasileiro de ser "original" em seus planos.
No entanto, na semana passada, os ucranianos solicitaram uma conversa com Amorim, realizada nesta terça-feira, como um movimento que expressa o desejo de se reaproximar do Brasil.
O país é considerado uma influência estratégica na América Latina. A Ucrânia precisa do apoio do chamado Sul Global, uma vez que, até o momento, apenas potências ocidentais têm fornecido armas, aplicado sanções à Rússia e declarado apoio explícito a Kiev. Na América Latina, apenas Chile, Uruguai, Costa Rica e Guatemala se posicionaram abertamente a favor do país invadido.
Durante a conversa com o representante indiano, Iermak discutiu os preparativos para a cúpula pela paz e a possibilidade de a Índia auxiliar na implementação de alguns aspectos do plano de paz proposto por Zelensky, de acordo com o governo ucraniano.
A Índia tem evitado condenar a Rússia de forma mais assertiva, tendo se abstido, por exemplo, na votação de uma resolução da ONU que condenou as consequências da invasão, contando com o apoio do Brasil, e pediu a retirada das tropas russas da Ucrânia. Além disso, o governo indiano aumentou as importações de petróleo provenientes de Moscou, contribuindo para a sustentabilidade financeira do regime de Putin, que está sob sanções econômicas do Ocidente, às quais o Brasil se opõe.
No final desta semana, uma delegação composta por sete presidentes de países africanos, liderada pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, visitará Kiev e, em seguida, Moscou. O grupo propôs um dos planos para pôr fim ao conflito, mas até o momento não houve avanços concretos em relação a essas propostas.