Santiago Peña, do Partido Colorado, foi eleito neste domingo (30) o novo presidente do Paraguai. Com 43,5% dos votos, ele derrotou Efraín Alegre, do Partido Liberal, que teve 27,6%.
A eleição no país vizinho tem uma especial importância para o Brasil em razão da revisão, em agosto, do Tratado da Usina de Itaipu. O novo presidente será interlocutor na revisão do Anexo C do acordo, que estabelece as bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade da usina.
Assinado em 1973, o Tratado de Itaipu já previa a amortização das dívidas contraídas pela usina, que acabaram de ser pagas no mês passado, bem como mudanças nas demandas elétricas dos dois países. Por isso, estabelecia a revisão do texto dentro de 50 anos.
Conforme o acordo, toda a energia produzida deve ser dividida entre os dois países. Historicamente, o Paraguai nunca usou toda a geração a que tem direito, e, pelo Tratado, se vê obrigado a vender o excedente para o Brasil.
Ainda durante a campanha, Peña falou sobre as negociações:
— Estou otimista para poder negociar isso com Lula. Ele é uma pessoa com experiência e há testemunhas de que quer fortalecer os vínculos entre os dois países.
Taiwan
Outros temas presentes na campanha que devem influenciar o governo de Peña são o controle da criminalidade e do contrabando na fronteira e a relação do Paraguai com Taiwan. O Paraguai faz parte de um clube de 13 países, a maioria pequenas nações insulares, que mantêm relações com Taiwan e não com a China.
A amizade Paraguai-Taiwan, firmada por seus ditadores em 1957, continua forte. Taiwan pagou pelo prédio modernista do Congresso do Paraguai e forneceu seu jato presidencial. No entanto, os agricultores do país enfrentam obstáculos para exportar soja e carne bovina para a China como resultado.
Influência
O Partido Colorado governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia. A exceção foi o período do esquerdista Fernando Lugo no poder, entre 2008 e 2012. O ex-bispo, porém, sofreu um impeachment.
Apesar do amplo domínio sobre a política paraguaia, o Partido Colorado está dividido em facções. Peña, um aliado do ex-presidente Horacio Cartes, representa o Honor Colorado, ala majoritária da legenda.
Sua campanha, no entanto, sofreu um abalo no começo deste ano quando o governo americano impôs sanções a Cartes, por supostos vínculos com a milícia xiita libanesa Hezbollah, suspeita de ter vínculo com comunidades de imigrantes na tríplice fronteira. Cartes é suspeito também de falsificação de cigarros. Ele tem diversos negócios no país.
Peña perdeu capacidade de financiamento e viu nas últimas pesquisas um crescimento de Alegre, que chegou a estar empatado tecnicamente com ele. A eleição presidencial paraguaia ocorre em turno único e é vencida por maioria simples para um período de cinco anos, sem possibilidade de reeleição imediata.
Resultado
O terceiro colocado na disputa foi Paraguayo Cubas, de 61 anos, um ex-senador de extrema direita que ganhou votos na reta final com um discurso populista e anticorrupção. Ele já havia atraído as manchetes por chicotear um juiz com o cinto.
Cubas fez sua campanha nas redes sociais, classificando o Congresso como uma caverna de bandidos e sugerindo que governaria como um ditador. Resultados preliminares indicavam no domingo que os colorados devem ampliar sua bancada no Senado e na Câmara.