A Irlanda do Norte celebra nesta segunda-feira (10) o 25º aniversário do acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que acabou com três décadas de um conflito devastador intercomunitário, e receberá o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Em 10 de abril de 1998, Sexta-Feira Santa, os líderes nacionalistas pró-Irlanda — majoritariamente católicos — e os unionistas pró-Grã-Bretanha — principalmente protestantes — alcançaram um acordo de paz após negociações complexas que envolveram os governos de Londres, Dublin e Washington.
O acordo acabou com três décadas de violência, período que registrou mais de 3,5 mil mortes. Um quarto de século depois, o cenário é mais de reflexão que de comemoração.
As instituições regionais, onde por determinação do acordo de paz republicanos e unionistas devem compartilhar o poder, estão paralisadas há mais de um ano devido à oposição do Partido Democrático Unionista (DUP) ao protocolo pós-Brexit negociado entre Londres e Bruxelas para a Irlanda do Norte.
Nenhuma cerimônia importante está prevista para esta segunda-feira, mas vários líderes políticos devem visitar o país durante a semana, incluindo Biden, que tem raízes irlandesas e que chegará na terça-feira à noite em Belfast, onde será recebido pelo primeiro-ministro britânico, Risihi Sunak.
"Recordamos hoje o início de um novo capítulo da história do povo norte-irlandês", afirmou Sunak em um comunicado.
Bloqueio político
Sunak destacou que o aniversário é a oportunidade para "celebrar aqueles que tomaram decisões difíceis, aceitaram compromissos e mostraram liderança". Nos anos posteriores à assinatura do acordo, os paramilitares norte-irlandeses foram desarmados, a fronteira terrestre militarizada foi desmantelada e as tropas britânicas se retiraram da área.
Mas a paz na Irlanda do Norte talvez seja mais precária em 2023 do que em qualquer outro momento desde a assinatura do acordo da Sexta-Feira Santa.
O DUP boicota há mais de 13 meses as instituições regionais norte-irlandesas para protestar contra os dispositivos especiais aplicados na região após o Brexit, que entrou em vigor no início de 2021.
O partido teme que os dispositivos, que mantêm a Irlanda do Norte no mercado único europeu para evitar o retorno de uma fronteira física com a República da Irlanda — país membro da União Europeia — afastem a região do Reino Unido e aumentem a probabilidade de uma Irlanda unificada, objetivo dos republicanos.
A tentativa de assassinato em fevereiro do policial John Caldwell, que foi atingido por vários tiros quando saía de um complexo esportivo com seu filho, foi condenada de maneira unânime pelos líderes políticos da Irlanda do Norte.
O ataque, reivindicado por dissidentes republicanos, foi uma recordação cruel do tipo de violência que já foi comum nesta região de 1,9 milhão de habitantes. Após o crime, a Irlanda do Norte elevou o nível de ameaça terrorista.
"Um pequeno número de pessoas... quer nos levar de volta ao período sombrio", disse o ministro britânico para a Irlanda do Norte, Chris Heaton-Harris, ao jornal Sunday Telegraph.
Para a visita de Biden, mais de 300 agentes procedentes do restante do Reino Unido foram convocados.
"Apoio internacional"
O acordo da Sexta-Feira Santa, "como veremos quando o presidente Biden nos visitar esta semana, mantém um considerável apoio internacional de nossos aliados mais próximos", destacou Sunak.
O primeiro-ministro oferecerá uma "jantar de gala" e comparecerá a uma conferência sobre o tema na Queen's University de Belfast.
A ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton — cujo marido Bill Clinton teve um papel fundamental na assinatura do Acordo de Paz quando era presidente entre 1993 e 2001 — também deve participar na conferência de três dias.
Biden quer aproveitar a visita para "destacar o progresso considerável desde a assinatura do acordo e recordar o compromisso dos Estados Unidos em apoiar o vasto potencial econômico da Irlanda do Norte", segundo a Casa Branca.
O presidente americano visitará em seguida a República da Irlanda, com escalas na capital Dublin, assim como nos condados de Louth (leste) e Maio (oeste), de onde partiram seus antepassados quando emigraram em meados do século 19, fugindo como tantos outros de uma Irlanda devastada pela fome, para morar na Pensilvânia.