Assassino confesso do amigo Alan Lopes, 21 anos, Begoleã Mendes Fernandes, 25, tentou fugir da Europa com pedaços de carne, que ele diz ser de origem humana, na bagagem. Preso na última segunda-feira (27) no aeroporto de Lisboa, em Portugal, por falsificação de documentos, ele afirmou para amigos e familiares que agiu em legítima defesa, mas a mãe de Alan procura explicações para o assassinato do filho, ocorrido em Amsterdam, na Holanda.
A reportagem do Fantástico foi à Europa e ao interior de Minas Gerais, onde Begoleã nasceu, e conversou com familiares e amigos dos envolvidos. A atração da Rede Globo também esteve na cena do crime, uma casa a 20 minutos do centro de Amsterdam.
Em mensagem de áudio, Begoleã justificou o assassinato do amigo afirmando que Alan Lopes o teria convidado para comer carne humana.
— Ele pegou um marroquino, decepou o cara dentro do açougue, mano, igual um porco. Ele me mostrou o vídeo. E me chamou lá na casa dele para eu comer um pedaço da carne do cara. Aí, na hora que ele tentou me pegar, mano, eu tava com uma faca. Eu fui reagir e passei ele, tá ligado? — afirmou na mensagem enviada para amigos.
Em nota, a polícia de Amsterdam diz que Begoleã "é suspeito na Holanda de homicídio doloso ou culposo, e não é suspeito de canibalismo" e que o corpo de Alan era um corpo completo.
"Estado psicótico"
Aos 21 anos, Alan acolheu e deu um lar para o próprio assassino nos últimos três anos. A casa onde moravam, local do crime, já foi liberada pela perícia, mas a mãe e as irmãs de Alan não querem voltar para lá.
— Ele pode ter tido um estado psicótico, alguma coisa ele imaginou, ele passou a acreditar naquilo. E foi onde tudo começou — afirma Kamila dos Anjos Lopes, irmã da vítima.
Em Matipó, interior de Minas Gerais, a família de Begoleã conta que ele estava no quarto período de odontologia em uma faculdade particular da cidade, quando, em 2019, largou os estudos para tentar ser lutador em Amsterdã. Na Europa, ele trabalhava fazendo biscates em obras e como entregador de aplicativo, enquanto treinava em uma academia.
Segundo os familiares, certa vez o brasileiro relatou ter sido atacado na Holanda. Não disse por quem nem por quê. E disse também que sentia medo de algo que não podia explicar.
— Ele chegou a falar que foi dormir na casa de uma pessoa um dia, aplicaram uma injeção no peito dele, no outro dia ele acordou "zonzinho". Um dia ele me falou assim: mamãe, eu não posso te falar, que vai ser muito difícil eu explicar — conta a mãe.
Logo depois do assassinato, Begoleã fez uma chamada de vídeo para a família dizendo que tinha agido em legítima defesa. A família admite que pediu então que ele fugisse. De trem, Begoleã foi para a Bélgica e, de lá, conseguiu um voo para o Brasil, com escala em Lisboa.
Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, para passar pela imigração, o brasileiro apresentou uma carteira de identidade italiana falsa. Ao verificarem a real identidade dele, as autoridades descobriram que havia um mandado de prisão contra Begoleã, expedido pelas autoridades holandesas, por homicídio.
Na mala, a polícia portuguesa encontrou roupas sujas de sangue e uma embalagem com pedaços de carne. Begoleã disse às autoridades que carne era humana. No entanto o laudo da perícia portuguesa sobre o material ainda não foi divulgado.