O brasileiro Fernando Sabag Montiel, acusado de tentar matar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no dia 1º de setembro de 2022, revelou à imprensa que agiu sozinho e que não se arrepende do ato. Essas foram as primeiras declarações públicas de Montiel desde que foi detido naquele mesmo dia.
— Eu agi sozinho, estão inventando história, mas agi sozinho — declarou ao programa "Minuto Uno", da emissora argentina C5N.
O brasileiro afastou a possibilidade de que sua noiva, Brenda Uliarte, tenha participado da tentativa de homicídio. Ela também está presa.
— Eu fiz isso por causa própria, entendem? Eu tenho as provas aqui. Brenda não teve nada a ver com isso — disse o brasileiro, de acordo com vídeos da entrevista divulgados pela emissora.
A tentativa de homicídio ocorreu nas proximidades da casa de Cristina. Montiel estava no meio de uma multidão de partidários da vice-presidente, que a aguardavam para demonstrar apoio à ela, dias depois de a Procuradoria pedir sua condenação em um caso de corrupção.
Montiel, então, se aproximou da vice-presidente, que cumprimentava apoiadores, apontou uma arma contra o rosto dela e apertou o gatilho, mas o disparo falhou. Toda a cena foi registrada por câmeras de celulares daqueles que acompanhavam Cristina.
A vice-presidente da Argentina publicou vídeo em redes sociais acusando o deputado oposicionista Gerardo Milman e duas assessoras de envolvimento com o atentado. Em resposta, o adversário político afirmou que trata-se de "operação suja" do kirchnerismo.
— A arma estava carregada, apertei o gatilho e o tiro não saiu. A arma tinha cinco balas. Imagina o nervosismo de estar em um lugar, de puxar a trava, puxei para trás e quando apertei o gatilho o tiro não saiu porque, no meio de tanto tumulto, tanta gente, eu estava nervoso — acrescentou Montiel.
Perguntado se tinha algum arrependimento, Montiel respondeu categoricamente:
— Não.
Os acusados
Agustina Díaz, amiga de Brenda Uliarte, e Nicolás Carrizo, também chegaram a ser presos por terem sido identificadas comunicações deles com os dois acusados. Agustina acabou solta e Carrizo, líder do grupo chamado "banda de los copitos" - de vendedores ambulantes de cana de açúcar - continua preso.
A Justiça recuperou mensagens de texto trocadas por Brenda e Agustina, em que elas teriam discutido o atentado contra a política argentina. Por meses, Brenda teria contado para Agustina seus planos de matar Cristina, chegando a dizer que havia contratado "um cara" para fazer o serviço, segundo trechos das mensagens reproduzidos pelo jornal La Nación.
"Mandei matar a vice Cristina (Kirchner). Não aconteceu porque ela se meteu para dentro (de casa). Enviei um cara para matar Cristi", teria escrito Brenda em uma das mensagens enviadas para Agustina, em 27 de agosto, data em que manifestantes criaram um tumulto em frente à residência da vice-presidente.
A última troca de mensagens resgatada pela Justiça e publicada pelo La Nación é do dia seguinte ao atentado, 2 de setembro. Desta vez, quem inicia o contato é Agustina Díaz, que parece saber que a tentativa de homicídio aconteceria no dia anterior.
"Che, mas o que aconteceu que o tiro falhou? Não praticou antes ou falhou na adrenalina do momento? Onde você está? Não seria conveniente que voltasse para a sua casa?", escreveu Agustina, ao passo que Brenda respondeu que estava na casa de um amigo.
A Justiça considerou que o ataque foi planejado pelo brasileiro, mas a causa do crime ainda está sob investigação. Cristina pede que seja apurado o autor intelectual do ato. Ela avalia que o brasileiro tenha recebido ordens e tenha sido apenas o executor do atentado.
O promotor do caso, Carlos Rívolo, solicitou novas perícias para o telefone celular de Montiel já que, supostamente, seu conteúdo foi apagado equivocadamente nas primeiras verificações policiais.
Durante a entrevista, o brasileiro afirmou que, depois do ataque, "foram plantadas" balas na casa dele, assim como drogas.
— Estão dando uma imagem inflada do que sou, porque não sou tudo o que dizem — ressaltou Montiel, na entrevista.