As autoridades afegãs libertaram um professor universitário que ficou detido por 32 dias por condenar o veto do governo talibã à presença de mulheres nas universidades do país, anunciou seu assistente nesta segunda-feira (6).
"Posso confirmar que foi solto ontem [domingo] e está bem", informou Farid Ahmad Fazli, por telefone.
Ismail Mashal, detido em 2 de fevereiro, goza de "boa saúde", mas "não está em condições de falar" com jornalistas no momento, acrescentou.
O professor provocou polêmica em dezembro, após rasgar seus diplomas ao vivo na televisão em protesto contra um decreto do governo que proíbe mulheres afegãs de frequentar o Ensino Superior. Ele também pediu demissão de três universidades particulares em Cabul.
Em uma sociedade profundamente conservadora e patriarcal como a do Afeganistão, é incomum ver um homem defendendo os direitos das mulheres.
"Levanto a voz. Estou com minhas irmãs [estudantes]. Meu protesto continuará nem que custe a minha vida", disse Mashal em uma entrevista à AFP.
No dia seguinte à sua detenção, seu assistente declarou que o docente foi "espancado impiedosamente e levado de maneira muito desrespeitosa por membros do Emirado Islâmico" (nome oficial do regime Talibã).
"O professor Mashal estava envolvido há algum tempo em ações provocativas contra o sistema", disse Abdul Haq Hammad, diretor do ministério da Informação e Cultura, pelo Twitter.
A detenção de pessoas como o docente "causa medo" na população e tem "um efeito dissuasivo no gozo geral das liberdades fundamentais", declarou na segunda-feira Richard Bennet, relator especial sobre a situação dos direitos humanos no Afeganistão.
Os estudantes universitários retornaram às salas de aula nesta segunda-feira, após as férias de inverno no hemisfério norte, mas as alunas permanecem vetadas pelo Governo.
De volta ao poder em agosto de 2021, o Talibã havia se comprometido a governar de forma menos rígida do que em seu primeiro regime (1996-2001), mas passou a impôr duras restrições às mulheres, afastando-as efetivamente da vida pública.
* AFP