A Guarda Costeira da Itália prossegue, nesta segunda-feira (27), com as buscas na localidade de Crotone, na região da Calábria (sul italiano), após o naufrágio de uma embarcação com imigrantes, no domingo (26), que deixou dezenas de mortos. A descoberta dos corpos de novas vítimas levados até a costa pela maré elevou o número de mortos na tragédia para 62, informou a Guarda Costeira. O balanço divulgado no domingo registrava 59.
ONGs assumiram os cuidados das crianças que perderam seus familiares, quando a embarcação superlotada se chocou contra rochas a poucos metros da costa durante uma tempestade na madrugada de domingo.
— Um menino afegão de 12 anos perdeu toda a família, nove pessoas no total: os quatro irmãos e irmãs, seus pais e outros integrantes da família — afirmou Sergio di Dato, coordenador da equipe de psicólogos enviada para o local pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) para ajudar os sobreviventes.
Pedaços do barco foram encontrados espalhados na praia. Os bombeiros da cidade vizinha de Cutro também participam das buscas, com o auxílio de helicópteros.
Em Le Castella, onde há uma fortaleza do século XV sobre a costa, um jornalista da Agence France-Presse (AFP) acompanhou as operações da Guarda Costeira que recuperaram o corpo de uma jovem, em torno dos 20 anos.
Autoridades locais disseram que continuam as buscas por cerca de 20 possíveis desaparecidos, embora os sobreviventes tenham dado versões diferentes sobre quantas pessoas estavam na embarcação.
A polícia forense iniciou a tarefa de identificação, compartilhando um endereço de e-mail para o qual aqueles que procuram seus entes queridos possam enviar detalhes significativos, da cor dos olhos ou do cabelo a tatuagens.
"O massacre de inocentes"
No Twitter, a ONG italiana Save the Children informou que atende sobreviventes procedentes de Afeganistão, Paquistão, Somália e Síria, incluindo vários menores de idade que viajavam com suas famílias: "Há muitos menores desaparecidos".
Segundo a ONG, os sobreviventes contaram que, "durante a noite, perto da costa, ouviram um barulho forte e depois todos caíram na água". "Alguns disseram que viram seus familiares caírem na água e desaparecer, ou morrer", acrescentou a organização.
A embarcação partiu de Izmir, na Turquia, na semana passada. Três responsáveis pelo tráfico de imigrantes sem documentos foram detidos. A polícia procura um quarto suspeito, noticiou a imprensa italiana.
A nova tragédia ocupa as primeiras páginas dos jornais italianos nesta segunda-feira (27). "O massacre de inocentes", intitulou o jornal La Stampa, com uma fotografia dos pedaços da embarcação. "O barco ficou destruído a 100 metros da costa: o massacre de imigrantes", destacou o periódico Il Corriere della Sera.
A primeira-ministra da Itália, a política de extrema direita Giorgia Meloni, expressou sua "profunda dor" e declarou que é "criminoso enviar para o mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com previsão de mau tempo".
País que registrou a chegada de centenas de milhares de imigrantes nos últimos anos, a Itália acusa seus parceiros da União Europeia (UE) de falta de solidariedade na distribuição das responsabilidades por esta situação, mesmo que um grande número de imigrantes não permaneça na península.
A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa. De acordo com o Ministério do Interior, quase 14 mil imigrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5,2 mil no mesmo período no ano passado, e 4,2 mil em 2021.