Mais de 1 milhão de pessoas manifestaram-se nas ruas da França nesta quinta-feira (19), um dia de greve contra o projeto do presidente centrista, Emmanuel Macron, de aumentar a idade de aposentadoria para 64 anos. De Marselha a Nantes, passando por Paris, uma multidão manifestou-se contra uma reforma que considera injusta, mas que o governo defende como única forma de evitar um déficit no fundo de pensões.
— Não sabem o que é trabalhar até os 64 anos nessas condições e poderiam arrumar dinheiro em outro lugar, principalmente tributando o capital — disse Manon Marc, animadora escolar em Paris.
Embora o Ministério do Interior tenha estimado o número de manifestantes em 1,12 milhão, muito abaixo dos "mais de 2 milhões" anunciados pelo sindicato CGT, a meta dos organizadores, de 1 milhão, foi superada. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, destacou o "bom desenrolar" dos protestos, mas não deu sinais de recuo. "Vamos continuar a debater e a convencer", tuitou.
A reforma da Previdência foi uma das principais medidas que o presidente francês, de 45 anos, prometeu durante a campanha que levou à sua reeleição em abril, após um primeiro projeto que abandonou em 2020 devido à pandemia.
— É uma reforma, sobretudo, justa e responsável, que foi democraticamente apresentada e validada — defendeu Macron na Espanha, onde participou de uma reunião.
Depois de anos de crise (protesto social dos coletes amarelos, pandemia, inflação), o jornal Le Parisien destacou que a reforma representa um "teste decisivo" para seu mandato e "a marca que deixará na História".
Embora sua intenção inicial fosse adiá-la de 62 para 65 anos, sua primeira-ministra, Élisabeth Borne, acabou estabelecendo a idade em 64 anos, mas antecipou para 2027 a exigência de 43 anos de contribuição para receber o benefício completo.
Esses dois pontos provocaram a rejeição social e sindical. De acordo com uma pesquisa da Ipsos publicada na quarta-feira (18), embora 81% dos franceses considerem uma reforma necessária, 61% rejeitam a proposta, e 58% apoiam as greves.
Conflito duro
Apesar de os protestos terem sido majoritariamente pacíficos, choques com as forças de segurança foram registrados em Paris, onde 30 pessoas foram detidas, segundo a polícia.
— Um conflito duro nos espera — previu o líder do sindicato FO, Frédéric Souillot, sobre essa primeira frente sindical única desde 2010, quando a mesma tentou impedir o aumento da idade de aposentadoria de 60 para 62 anos.
Mas será alcançado o sucesso de 1995? Presente no imaginário coletivo, o intenso protesto deixou o metrô e trens parados nas plataformas por mais de três semanas e conseguiu paralisar uma reforma da Previdência.
— O governo já perdeu uma batalha, a de convencer as pessoas — disse o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Os partidos de esquerda e a extrema direita rejeitam a reforma, mas não a oposição de direita. O partido de esquerda radical A França Insubmissa deve se manifestar no próximo sábado, juntamente com organizações juvenis, dois dias antes da aprovação do projeto pelo conselho de ministros.
Os sindicatos convocaram um novo dia de mobilização para 31 de janeiro, paralelamente ao início do debate parlamentar sobre a reforma, que pode durar até o fim de março.
"Vou trabalhar de casa"
O dia também foi marcado por uma convocação de greve, que se traduziu em perturbações no transporte público e em muitos franceses tendo que conciliar trabalho e cuidado dos filhos.
— Vou trabalhar de casa, já que, com as greves, não posso me arriscar — disse o consultor Abdou Syll, que precisa cruzar a região de Paris para chegar ao escritório.
Segundo os sindicatos, 70% dos professores do ensino primário e 65% do ensino secundário participaram da paralisação, cifras que o Ministério da Educação baixou para 42,35% e 34,66%, respectivamente. Um total de 28% dos funcionários não trabalharam, segundo o governo.
O setor de energia também se mobilizou. Cerca de 44,5% dos funcionários da empresa EDF participaram, e as centrais nucleares, principais fontes de eletricidade, estavam a 63% de sua capacidade. A maioria das refinarias registrava entre 70% e 100% dos funcionários em greve, segundo a CGT, o que, juntamente com futuras greves, reaviva o temor de uma escassez de combustível como a vivida em outubro.