A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, vai continuar nesta sexta-feira (9) as negociações para a formação de governo após a destituição e detenção de Pedro Castillo, acusado de tentativa de golpe de Estado e cujos apoiadores exigem nas ruas a sua libertação e a convocação de eleições.
Dois dias após a fracassada tentativa de golpe, o líder esquerdista — que havia assumido o poder há 16 meses — divide um centro de detenção com o ex-presidente Alberto Fujimori, na base das forças especiais da polícia, localizada ao leste de Lima. O Ministério Público o acusa de rebelião e conspiração, e um tribunal superior ordenou sete dias de prisão preventiva.
As manifestações em várias cidades alimentam a incerteza sobre a viabilidade de Boluarte conseguir concluir o mandato em 2026, como ela mesma anunciou ao tomar posse na quarta-feira. Os protestos incluíram ações violentas, como o bloqueio da rodovia Pan-americana Sul na região de Ica e Arequipa com pedras, troncos e pneus em chamas.
Todos os olhares também estão voltados nesta sexta-feira para uma cerimônia do exército peruano pelo 198º aniversário da Batalha de Ayacucho, que selou o fim do domínio colonial espanhol na América Latina.
Boluarte deve comparecer a esse evento e fazer um discurso perante os militares, que tiveram um papel fundamental na queda de Castillo ao não apoiar o regime de exceção proposto por ele.
Castillo tentou dissolver o Legislativo e governar por decreto, mas suas ordens foram ignoradas pelo Congresso e pelas Forças Armadas.
"Não o deixaram trabalhar"
Milhares de manifestantes exigiram na quinta-feira a renúncia da nova presidente, a primeira mulher a liderar o Peru e a quem alguns esquerdistas chamam de "traidora" por assumir o cargo. Em Lima, um protesto de cerca de mil pessoas marchou em direção ao parlamento, onde foi dispersado pela polícia com gás lacrimogêneo e pelo menos três manifestantes foram presos, confirmou a AFP.
— Eu protesto para defender meu presidente Pedro Castillo, que foi destituído injustamente. Eles fizeram o impossível para tirar Castillo. Desde o momento em que ele entrou, não o deixaram trabalhar — disse Mery Colque.
— Vivemos um golpe decretado pelo Congresso golpista. Não pode ser que um pequeno grupo de cem pessoas tire um presidente eleito por milhões — afirmou Ana Zevallos.
Protestos também foram registrados em vários departamentos e cidades do interior do Peru, como Chota (Cajamarca, cidade natal de Castillo), Trujillo, Puno, Ayacucho, Huancavelica e Moquegua.
Rebelião
Na audiência do tribunal na quinta-feira, Castillo, um professor rural de 53 anos sem contato com as elites peruanas, parecia exausto e sem expressão. Ele vestia a mesma jaqueta azul que usou quando foi preso. Visivelmente nervoso, se recusou a usar o direito de defesa para responder às acusações, cedendo a palavra a seus advogados.
— É claro que o crime de rebelião não foi configurado aqui porque não se concretizou — alegaram.
Se for considerado culpado, ele pode pegar entre 10 e 20 anos de prisão.
Depois de anunciar a dissolução dos poderes e declarar estado de exceção na quarta-feira, Castillo foi detido por sua própria escolta quando se dirigia à embaixada mexicana em Lima para pedir asilo político.