Outro dia sombrio em Mianmar: a Junta no poder condenou a ex-líder Aung San Suu Kyi e o jornalista japonês Toru Kubota a novas penas de prisão nesta quinta-feira (12), em dois casos separados.
A prêmio Nobel da Paz de 1991, de 77 anos, foi condenada a "duas penas de prisão de três anos", que foram combinadas, informou uma fonte familiarizada com o assunto à AFP.
Ela foi considerada culpada por ter aceitado 550.000 dólares em propina de um empresário local, Maung Weik, em mais um capítulo do seu julgamento denunciado como político pela comunidade internacional.
Aung San Suu Kyi "está em bom estado de saúde. Os seus advogados vão recorrer como nos outros casos", informou esta fonte.
Ela já havia sido condenada a 23 anos de prisão por vários motivos, incluindo fraude eleitoral e corrupção.
É acusada ainda em outros cinco casos de corrupção.
Por sua vez, Toru Kubota, de 26 anos, preso no final de julho enquanto cobria um protesto contra a junta em Yangon, foi condenado a três anos de prisão por violar a lei de imigração, disse à AFP uma fonte diplomática japonesa.
- "Farsa" -
O cinegrafista, que compareceu ao seu julgamento em boas condições de saúde, já tinha sido condenado na semana passada a duas penas totalizando dez anos de prisão pela divulgação de informação prejudicial à segurança do país e por encorajar a dissidência contra o exército.
Essas sentenças foram combinadas, reduzindo para sete anos a duração prevista de sua prisão para esses dois casos, segundo um porta-voz da Junta.
A Junta birmanesa está sob o fogo das críticas da comunidade internacional desde que o país mergulhou em um conflito civil após o golpe militar de 1º de fevereiro de 2021.
Presa na época do golpe, que encerrou uma década de transição democrática em Mianmar, Aung San Suu Kyi foi colocada em confinamento solitário em uma prisão em Naypyidaw no final de junho, onde seu julgamento começou há mais de um ano.
Muitas vozes denunciam um assédio judicial que seria baseado em motivos políticos, com o objetivo de destituir definitivamente a filha do herói da independência e que venceu as eleições de 2015 e 2020.
Vários de seus colegas receberam sentenças severas. Um ex-membro de seu partido, Phyo Zeya Thaw, foi condenado à morte e executado no final de julho.
"Esses julgamentos falsos contra ela e seus aliados não podem ser levados a sério", comentou um porta-voz da Anistia Internacional à AFP.
"O exército de Mianmar acumula falsas acusações contra Aung San Suu Kyi, como parte de uma campanha mais ampla para bloquear e silenciar todos os opositores", continuou a ONG de direitos humanos.
A Junta se defende dessas acusações e até promete abrir negociações com Aung San Suu Kyi assim que seu julgamento terminar.
Desde o golpe que mergulhou o país em um conflito sangrento, mais de 2.300 civis foram mortos pelas forças de segurança, segundo uma contagem de uma ONG local.
Kubota é o quinto jornalista estrangeiro desde o golpe militar de 1º de fevereiro de 2021 a ser preso pela Junta, depois dos americanos Danny Fenster e Nathan Maung, do polonês Robert Bociaga e do japonês Yuki Kitazumi, que acabaram sendo libertados e expulsos.
Antes que o veredito fosse anunciado, o porta-voz da Junta, Zaw Min Tun, disse à AFP que Kubota "não seria expulso neste momento", sem dar detalhes.
* AFP