Mark Cancian, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em inglês), revelou em uma análise recente que os Estados Unidos estão a ponto de esgotar a sua capacidade de fornecer armamentos à Ucrânia. As armas são utilizadas pelos militares do país contra o exército russo. O principal motivo para essa crise de fornecimento é que as reservas de munições estão chegando ao fim.
Washington é o principal e mais importante fornecedor de armas ao país europeu, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano. Desde o início do conflito, os norte-americanos fizeram um acordo com os ucranianos que atualmente soma US$ 16,8 milhões (cerca de R$ 87,3 milhões) em assistência militar.
De acordo com a análise realizada por Cancian, apesar da parceria entre os países, as reservas norte-americanas de certos equipamentos estão "atingindo os níveis mínimos necessários para os planos de guerra e treinamento", e recuperar os níveis anteriores à invasão poderia levar anos.
Uma fonte militar dos Estados Unidos que pediu anonimato relatou à AFP que essa crise no fornecimento de armas fará com que o país aprenda uma grande lição: em conflitos e guerras muito grandes, a necessidade de munição é muito maior do que o esperado e do que qualquer planejamento.
Histórico armamentista dos EUA
Essa não é a primeira crise de fornecimento de equipamentos de guerra enfrentado pelos Estados Unidos. Na década de 1990, as empresas armamentistas norte-americanas foram obrigadas a reduzir a sua produção de forma drástica, já que o país precisou diminuir os gastos militares após o colapso da União Soviética. Como resultado disso, o setor de armas entrou em crise e apenas alguns fabricantes conseguiram sobreviver.
Com relação ao acordo com a Ucrânia, alguns equipamentos de guerra fornecidos pelos norte-americanos se tornaram símbolos do conflito no leste europeu. Entre eles estão o míssil antitanque Javelin, muito utilizado pelas forças de Kiev para deter o avanço russo à capital, e também os foguetes Himars, um sistema de artilharia de precisão que tem papel-chave na contraofensiva a Moscou no leste e no sul do país.
Ajuda norte-americana
Os Estados Unidos já enviaram cerca de 8,5 mil mísseis Javelin para a cidade ucraniana de Kiev. No entanto, não é possível fornecer muito mais porque a frequência com que essa arma é produzida no país é de mil por ano.
Washington chegou a encomendar US$ 350 milhões (aproximadamente R$ 1,8 bilhões) desses mísseis em maio deste ano, mas levará muitos anos para que o país consiga restabelecer as reservas.
Os Estados Unidos também já forneceram mais de 800 mil projéteis de artilharia padrão Otan de 155 milímetros para Kiev. Segundo estatísticas oficiais do Pentágono, essa quantidade representa quase três quartos do total entregue a todos os países ocidentais da aliança.
— A quantidade de projéteis que Washington entregou está provavelmente próxima do limite que o país está disposto a oferecer sem risco para suas próprias capacidades de combate — enfatizou Cancian.
Atualmente, a produção norte-americana desse tipo de artilharia é de aproximadamente 14 mil projéteis por mês, mas o Pentágono anunciou que pretende aumentá-la para 36 mil em três anos. Isso, no entanto, levaria a uma produção anual de 432 mil, menos da metade do que foi enviado à Ucrânia em sete meses.
Possíveis soluções
Para resolver a possível crise de fornecimento, o governo norte-americano precisa convencer a indústria armamentista a reabrir linhas de montagem e a retomar a produção de armas. Os mísseis terra-ar Stinger, por exemplo, não são fabricados desde 2020.
Outro problema é que as reservas de munição para o Himars, que dispara foguetes teleguiados por GPS, conhecidos como GMLRS, e com alcance de mais de 80 quilômetros, estão ficando escassas.
— Se os Estados Unidos enviarem um terço desse inventário à Ucrânia, como ocorreu no caso dos Javelin e dos Stinger, a Ucrânia receberia de oito a 10 mil foguetes. Isso poderia durar por muitos meses. Mas, quando acabar, não haverá alternativa — relatou Cancian, que trabalhou na área de fornecimento de armamento para o governo norte-americano, à AFP.
Outra solução apontada por Mark é o fornecimento de equipamentos mais antigos enquanto os novos estão em processo de fabricação.
— A produção é de aproximadamente 5 mil por ano. No entanto, apesar de os Estados Unidos trabalharem para aumentar esse número, ao atribuir recentemente um orçamento para este fim, isso pode levar anos — explicou o especialista.
Em comunicado divulgado à imprensa em 4 de outubro, Laura Cooper, vice-secretária adjunta do Departamento de Defesa para Rússia, Ucrânia e Eurásia, informou que a produção da indústria de defesa dos Estados Unidos está acelerando e garantiu que o país manterá o fornecimento de armas ao paí governo por Zelensky.
— Os Estados Unidos vão continuar apoiando o povo da Ucrânia e fornecendo a assistência em segurança que necessitem para se defender pelo tempo que for necessário — afirmou a vice-secretária.