Ao menos três pessoas morreram na explosão que danificou a ponte da Crimeia e provocou um grande incêndio, anunciaram, neste sábado (8), investigadores russos, que afirmaram ter identificado o dono do caminhão-bomba que causou a detonação.
"De acordo com dados preliminares, três pessoas morreram, provavelmente os passageiros de um veículo que estava perto do caminhão quando explodiu", disse o Comitê de Investigação da Rússia em comunicado. "Os corpos de duas vítimas, um homem e uma mulher, já foram retirados da água", informou o Comitê, sem dar detalhes sobre a terceira vítima.
O órgão, responsável pelas principais investigações criminais na Rússia, também alegou ter identificado o caminhão e seu proprietário, suspeito de estar por trás da explosão. Ele seria habitante da região de Krasnodar, no sul da Rússia. "Foi aberta uma investigação em seu local de residência. A rota do caminhão e os documentos relevantes estão sendo estudados", acrescentaram os investigadores.
A explosão do caminhão causou um grande incêndio e danificou parte da ponte, que liga o sul da Rússia à península ucraniana da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. A infraestrutura, construída por ordem do presidente russo Vladimir Putin e inaugurada em 2018, é fundamental para o transporte de material militar para as tropas russas destacadas na Ucrânia. A Ucrânia não reivindicou a responsabilidade pelo ataque.
Chamas e desabamento
Imagens de câmeras de segurança que circulam on-line mostram uma enorme explosão destruindo a ponte, enquanto alguns veículos passam por ela. O impacto pareceu ocorrer na passagem de um camião branco. Outras imagens mostram a linha férrea em chamas por dezenas de metros e um trecho desabado da estrada.
Se a Ucrânia estiver por trás do incêndio e da explosão na ponte da Crimeia, o fato de que uma infraestrutura tão crucial e tão longe do front possa ser danificada pelas forças ucranianas seria uma vergonha para Moscou.
"Hoje às 06h07 (1h07 de Brasília) na parte rodoviária da ponte da Crimeia (...) ocorreu uma explosão de um veículo-bomba, que incendiou sete tanques ferroviários que estavam indo para a Crimeia", declarou o Comitê Antiterrorista russo, acrescentando que duas faixas rodoviárias foram danificadas, mas o arco da ponte não.
O porta-voz do Kremlin disse à agência Ria Novosti que Putin ordenou a formação de uma comissão governamental para apurar os fatos.
O tráfego ferroviário e rodoviário foi interrompido e balsas foram colocadas em operação para permitir a travessia, segundo as agências russas.
"Natureza terrorista"
Se a Ucrânia não assumiu a responsabilidade por este atentado, os seus responsáveis multiplicaram os comentários irônicos, chegando os correios ucranianos a anunciar que preparam um selo para celebrar a ocasião. "Tudo que é ilegal deve ser destruído, tudo roubado deve ser devolvido à Ucrânia", tuitou Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Poucas horas após a explosão, várias agências governamentais na Ucrânia postaram algum tipo de meme ou piada nas redes sociais para celebrá-la, para zombar de Putin ou para sugerir quem poderia estar por trás disso.
Essas reações levaram a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, a ver isso como um sinal da "natureza terrorista" das autoridades ucranianas.
O exército russo, em dificuldades em Kherson, no sul da Ucrânia, garantiu que o envio de suprimentos a suas tropas não estava ameaçado. "O abastecimento (...) é feito de forma contínua e completa, ao longo de um corredor terrestre e parcialmente por mar", anunciou.
A Ucrânia atingiu várias pontes na região de Kherson nos últimos meses para interromper o abastecimento russo, bem como bases militares na Crimeia, ataques pelos quais só assumiu responsabilidade meses depois.
O chefe da Assembleia da Crimeia, o parlamento regional instalado pela Rússia, Vladimir Konstantinov denunciou um golpe "dos vândalos ucranianos". O líder da península, Serguei Aksionov, tentou tranquilizar dizendo que a Crimeia tinha reservas de combustível para um mês e comida para dois meses. Segundo ele, os trabalhos de reparação vão começar "quase hoje".
Um funcionário da ocupação russa na região ucraniana de Kherson, vizinha da Crimeia, Kirill Stremoussov, indicou que os reparos podem levar "dois meses".
Derrotas em série
A Rússia sempre sustentou que a ponte é segura apesar dos combates na Ucrânia, mas no passado ameaçou Kiev com represálias se as forças ucranianas atacassem essa infraestrutura ou outras na Crimeia.
O deputado russo Oleg Morozov, citado pela agência Ria Novosti, pediu neste sábado uma resposta "adequada". "Caso contrário, esse tipo de ataque terrorista se multiplicará", disse.
Desde o início de setembro, as forças russas foram forçadas a recuar em muitos pontos. Em particular, foram forçadas a se retirar da região de Kharkiv (nordeste) e recuar em Kherson. Diante desses contratempos, o presidente Putin decretou no final de setembro a mobilização de centenas de milhares de reservistas para reverter a tendência. Também decretou a anexação de quatro regiões ucranianas, embora Moscou as controle apenas parcialmente.
O único campo de batalha onde Moscou atualmente tem vantagem é perto da cidade de Bakhmut, na região de Donetsk (leste), que as forças russas tentam tomar desde agosto.
Usina nuclear sem fonte de energia
Paralelamente, a usina nuclear de Zaporizhzhia perdeu sua última fonte de energia externa devido a novos bombardeios e está funcionando com geradores de emergência, informou hoje a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
A usina obtém "a eletricidade necessária para resfriar seu reator e para outras funções essenciais" graças a geradores a diesel, acrescentou o órgão da ONU em comunicado. "A conexão foi cortada por volta de 1h00, horário local", disse a AIEA, com base em "relatórios oficiais da Ucrânia" e sua "equipe" de quatro especialistas presentes na maior usina nuclear da Europa.
O diretor da AIEA, Rafael Grossi, considerou a retomada dos bombardeios como "totalmente irresponsável".
A agência nuclear ucraniana, Energoatom, escreveu no Telegram que "a última linha de conexão foi danificada e desconectada" devido a bombardeios russos. Os seis reatores da usina estão desligados, mas precisam de eletricidade para suas funções vitais de segurança.
Os geradores a diesel da usina têm combustível suficiente para pelo menos 10 dias.