O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta quarta-feira (21) uma "mobilização parcial" de russos em idade de lutar, abrindo caminho para uma escalada no conflito na Ucrânia. Em discurso gravado transmitido na televisão, Putin acusou o Ocidente de querer destruir a Rússia e fez uma ameaça velada de que não descartaria o uso de armamento nuclear.
— É claro que usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e nosso povo — disse no comunicado. — Isso não é um blefe — alertou Putin.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou que 300 mil reservistas serão convocados. Segundo Sergei, o número é pequeno perto do potencial russo de mobilização — que seria de 25 milhões de pessoas.
Diante das contraofensivas das forças ucranianas, que provocaram o recuo do exército russo, Putin optou por uma escalada no conflito, com uma medida que abre o caminho para o envio de mais militares russos à Ucrânia.
Após o anúncio, na terça-feira, sobre a organização de "referendos" de anexação de quatro regiões do leste e do sul da Ucrânia a partir de sexta-feira (23), as declarações do presidente russo marcam uma mudança no conflito
— Considero necessário apoiar a proposta (do Ministério da Defesa) de mobilização parcial dos cidadãos da reserva, aqueles que já serviram (...) e que têm experiência relevante —declarou Putin.
Após as declarações de Putin, o ministro da Defesa também concedeu entrevista ao canal de televisão Rússia-24. Sergei reconheceu que 5.937 soldados foram mortos desde o início da ofensiva na Ucrânia no final de fevereiro, um número bem abaixo das estimativas ucranianas e ocidentais.
— Nossas perdas até o momento são de 5.937 mortos — disse o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu.
Shoigu ainda acrescentou que a Rússia "não luta contra a Ucrânia tanto quanto luta contra o Ocidente" no país vizinho. A ordem é efetiva a partir desta quarta-feira, segundo o presidente russo. O decreto foi publicado pouco depois da exibição do discurso no portal do Kremlin.
Reações
Mikhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ironizou a medida.
— Tudo isto continua seguindo de acordo com o plano, certo? A vida tem um grande senso de humor — escreveu no Twitter. — 210º dia da "guerra de três dias". Os russos que pediam a destruição da Ucrânia acabaram com: 1. Mobilização. 2. Fronteiras fechadas, bloqueio das contas bancárias. 3. Prisão por deserção — acrescentou Podolyak.
A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, afirmou que a medida representa um "sinal de fraqueza" de Moscou, que precisa lidar com uma escassez de militares em sua ofensiva na Ucrânia, que esta semana completa sete meses.
O Reino Unido seguiu a mesma linha. O secretário britânico de Defesa, Ben Wallace, afirmou que a decisão de Putin mostra que sua ofensiva "está falhando" e destacou que "a comunidade internacional está unida, enquanto a Rússia está virando um pária global".