É um típico dia londrino: chuva que vem e vai e aquele cinza tradicional de dias nublados. A chegada do corpo da rainha Elizabeth II estava prevista para fim da tarde desta terça-feira (13). Quando passava das 17h (horário local), o que se via nas ruas era o movimento de trabalhadores. Gente engravatada, bem vestida. Trata-se de uma região de escritórios e de órgãos públicos.
Num dia de chuva o que você faz quando sai do trabalho? Boa parte corre para casa. Mas alguns moradores de Londres têm outro rumo, por um caminho que é todo cercado de grades. É onde estou. Trata-se do traçado que pensei que levaria ao Palácio de Buckingham, mas depois de uma hora caminhando descubro que estou encurralado nos fundos da residência oficial da rainha.
Pergunto a um policial porque estamos ali. Ele explica que o carro com o caixão da rainha Elizabeth II deve passar naquele trecho. A descoberta me anima e aos milhares que estão ao meu lado. É tanta gente que os guarda-chuvas precisaram ser fechados porque estavam acertando o rosto de algumas pessoas.
É um clima de expectativa muito parecido com que vi em Edimburgo, na Escócia, no último domingo (11). Mas tem outra dimensão. Tudo em Londres é maior: as ruas, a segurança, a rigidez.
Essa será a última noite que o corpo de Elizabeth II passa na casa oficial onde viveu por 70 anos como rainha e alguns anos como princesa. Ela vai permanecer no Palácio de Buckingham até a tarde desta quarta-feira (14) quando será feito um cortejo em direção a Westminster.
Escuto alguém dizer:
— Eu não queria que esse dia chegasse.
Procuro para ver se encontro de onde vem essa voz. Não tem como achar. Na verdade, nem precisa. Todos tem a mesma opinião sobre a rainha Elizabeth II (entrevistei muita gente nos últimos dias). Podem até existir críticos da monarquia, mas os da rainha não apareceram.
O fim da tarde se transforma em noite. É quando os guardas e policiais levam a gente para a rua lateral que dá acesso ao palácio. Consigo chegar até bem perto da entrada de Buckingham.
Durante a noite, esse palácio é ainda mais fascinante. É um lugar enorme, com várias salas, cozinhas, quartos, jardins. Não falta espaço, mas falta privacidade. E os muros altos não são garantia de tranquilidade.
E nessa despedida, que parece tão longa para quem não tem essa cultura, essa noite não será esquecida. A rainha voltou para casa, mas não do jeito que os britânicos queriam. O choro e o silêncio, mais uma vez, evidenciam o luto. Antes do adeus definitivo, pelo menos por mais uma noite, a rainha está em seu palácio.
Desta quarta-feira até o sepultamento, na segunda (19), será feito velório sem interrupção, 24 horas por dia.
— Irei para Westminster me despedir da rainha. Mesmo que a fila demore muito eu preciso desse momento de despedida porque estou muito triste — disse Kloa Fruz, uma assistente social.
Os súditos, agora, seguem para casa numa cidade com o transporte público quase em colapso. Para encontrar uma estação de metrô aberta terei de caminhar mais uns 30 minutos. A região do palácio só permite o desembarque de passageiros. O tráfego de carros também está bloqueado em várias ruas. Nessas horas, todos gostariam de ser nobres.