A Flórida começou na quinta-feira (29) a contabilizar os danos causados pelo furacão Ian, em um panorama de cidades devastadas, milhões de pessoas sem energia elétrica e temores de que o custo humano possa ser substancial, antes de o fenômeno se dirigir para o sudeste dos Estados Unidos.
Depois de ser rebaixado para tempestade tropical, Ian se fortaleceu até atingir novamente a categoria de furacão, segundo o Centro Nacional de Furacões (NHC) americano, e se dirigia para o sudeste do país.
Ao menos 12 pessoas morreram na Florida, onde se multiplicam as imagens de ruas transformadas em canais de águas turvas, embarcações jogadas no chão como se fossem brinquedos e casas destruídas.
— Este pode ser o furacão mais letal da história da Flórida — disse o presidente americano, Joe Biden, durante uma visita ao escritório da agência federal que combate desastres naturais, FEMA, em Washington.
— Os números (...) ainda não são claros, mas recebemos informações que dão conta de uma perda substancial de vidas — acrescentou, assegurando que pretende ir o quanto antes ao Estado, mas também para a ilha de Porto Rico, afetada recentemente pelo furacão Fiona.
Em entrevista coletiva na noite dessa quinta-feira, o governador da Flórida, Ron DeSantis, disse que esperava inúmeras mortes causadas pelo furacão. Ele não forneceu um número provisório, preferindo esperar a confirmação do balanço oficial.
— Houve mais de 700 resgates confirmados e certamente haverá muitos mais quando novos dados chegarem.
Noite de angústia
Um funcionário do condado de Charlotte, no oeste do Estado, confirmou à rede de TV CNN a morte de "oito ou nove" pessoas, sem dar detalhes. Um porta-voz do condado de Volusia, na costa leste, anunciou ter registrado "a primeira morte vinculada ao furacão Ian": um homem de 72 anos, "que saiu para esvaziar a piscina durante a tempestade".
Um funcionário do condado de Osceola, no centro-leste do Estado, informou à CNN sobre a morte do morador de um retiro. Já um porta-voz do xerife do condado de Sarasota também comunicou ao canal a morte de duas pessoas em sua área.
Paralelamente, prosseguiam as buscas por 18 pessoas desaparecidas na quarta-feira (28) depois que uma embarcação de migrantes naufragou perto do arquipélago dos Keys. Quatro cubanos nadaram até a margem dos Keys da Flórida, e a guarda costeira resgatou outros cinco.
Depois de uma noite de angústia, os moradores da Flórida revisavam nesta quinta suas casas e comunidades. Na pequena cidade de Iona, na costa oeste, Ronnie Sutton, que ainda não conseguiu voltar para casa, disse estar convencido de que a água destruiu tudo.
— É terrível. Penso que é o preço a se pagar quando se vive no nível do mar. Às vezes o tiro sai pela culatra — lamentou.
A 20 quilômetros dali, em Fort Myers, a elevação do nível das águas submergiu alguns barcos e arrastou outros para as ruas do centro.
— Eram barulhos assustadores, com escombros voando por todas as partes, portas no ar — contou Tom Johnson, um morador que testemunhou a destruição.
Sem luz
Ian tocou a terra ainda como furacão de categoria 4 (em uma escala que vai até 5) no sudoeste da Flórida, antes de continuar seu avanço pelo Estado, com fortes ventos e chuvas torrenciais. Na noite de quinta, mais de 3 milhões de residências ou comércios permaneciam sem luz, de um total de 11 milhões, segundo o site especializado PowerOutage.
Punta Gorda, um pequeno povoado costeiro localizado na trajetória do furacão, amanheceu sem energia elétrica. Enquanto os bombeiros e a polícia percorriam as ruas para avaliar os danos, uma escavadeira retirava folhas de palmeiras caídas.
Ian arrancou algumas árvores, assim como postes de energia e sinais de trânsito. As chuvas intensas inundaram as ruas do pequeno porto, onde a água ainda chegava ao meio das pernas na quinta. Joe Ketcham, morador da cidade, decidiu ficar em casa, apesar das ordens de evacuação.
— Agora estou mais tranquilo, mas ontem estava preocupado — disse o homem de 70 anos.
— Era incessante. O vento soprava constantemente sobre nossas cabeças. Podíamos ouvir o metal batendo contra o edifício. Estava escuro. Não sabíamos o que estava acontecendo do lado de fora — relatou.