O então príncipe Charles de Gales dedicou sua vida a se preparar, não sem polêmicas, para reinar, e o fará em uma idade em que seus compatriotas aposentados descansam ao sol da Andaluzia. Aos 73 anos, o príncipe de Gales chegou ao trono como o monarca britânico mais velho — o segundo foi William IV, que tinha 64 anos quando se tornou rei, em 1831.
Já detentor de uma pensão de aposentadoria de pouco mais de 100 libras esterlinas — que doava a uma organização beneficente para pessoas idosas — e do passe de transporte público gratuito, Charles chega ao trono com uma reputação de ser mais intrometido politicamente que sua mãe, afeito a causas que vão da agricultura orgânica à arquitetura neoclássica, passando pela pobreza juvenil.
Terminando uma espera recorde na história da monarquia britânica, ele se tornou rei automaticamente após a morte de sua mãe, de acordo com a velha máxima latina "Rex nunquam moritur" (o rei nunca morre).
O novo rei britânico, até então conhecido como príncipe Charles, vai adotar o nome de Charles III.
— Ele poderia surpreender e usar outro de seus nomes, como fez seu bisavô em 1901 — disse, à Agence France-Presse, Bob Morris, autor de vários livros sobre o futuro da monarquia no Reino Unido.
A sua coroação, uma cerimônia única na Europa, deverá acontecer, na melhor das hipóteses, dentro de algumas semanas, depois de passado o trauma da morte de Elizabeth II. Ela mesma foi coroada na Abadia de Westminster, em 2 de junho de 1953, diante de mais de 8,2 mil convidados, 16 meses depois de ser proclamada rainha.
O príncipe ativista
Em dezembro de 2016, Charles denunciou a ascensão do populismo e a hostilidade aos refugiados, justo no ano em que seu país deixou a União Europeia e Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos.
— Estamos vendo a ascensão de muitos grupos populistas em todo o mundo crescentemente agressivos em relação aos que professam uma fé minoritária. Tudo isso tem ecos profundamente inquietantes dos dias obscuros dos anos 1930 — sentenciou.
A relação com Camilla, a rainha consorte
Uma campanha de relações públicas vigorosa ajudou Charles a virar a página de sua impopularidade no momento da morte trágica de sua ex-esposa Diana em 1997, de quem havia se divorciado, e a gerir seu novo casamento com Camilla, sua amante de toda a vida, em 2005.
Apesar de carregar o rótulo de ser a mulher por trás do divórcio, ela acabou ganhando a simpatia da maioria dos britânicos, por conta de sua personalidade extrovertida e risonha.
Camila tornou-se automaticamente rainha consorte nesta quinta-feira (8), por desejo expresso de Elizabeth II, que disse isso durante um discurso em fevereiro de 2022 por ocasião de seus 70 anos de reinado. É o título que sua mãe e sua avó tiveram.
No entanto, devido à trágica morte de Diana, primeira esposa de Charles, o tratamento dado a Camilla foi sensível para muitos britânicos a ponto de, após se casar com ele em 2005, ela mesma decidir não assumir o título de princesa de Gales.
Agora, o novo rei assume as rédeas de uma instituição com um papel reduzido no mundo, numa época e idade que representam um duplo desafio para este príncipe de personalidade singular.
Desde seus primeiros compromissos oficiais na década de 1970, o papel do príncipe de Gales tem sido até agora de "apoio", recebendo dignitários, participando de jantares de Estado e viajando para uma centena de países, especialmente depois que Elizabeth II ficou com a saúde mais frágil. No entanto, tem pouca popularidade.
Charles teve apenas 54% de opiniões favoráveis em agosto de 2021, de acordo com uma pesquisa do YouGov, muito atrás da rainha (80%), seu filho príncipe William (78%), sua nora Catherine (75%) e sua irmã, a princesa Anne (65%).
Desde a morte de seu pai, Philip, em abril de 2021, e enquanto a rainha estava menos presente por motivos de saúde, Charles estreitou o círculo real para sua comitiva mais próxima: Camila, William e seu irmão mais novo Edward.
Ninguém sabe como Charles Philip Arthur George vai encarnar a monarquia britânica, mas uma coisa já é certa: seus anos no trono estão contados.