Nesta quarta-feira (10), a China voltou a repetir ameaças contra Taiwan e suas forças separatistas enquanto encerra exercícios militares próximos à ilha autônoma. Em documento oficial, o governo chinês fala em trabalhar por uma reunificação pacífica mas não descarta a possibilidade de usar a força caso veja necessidade. A mensagem foi emitida pelo Gabinete de Assuntos de Taiwan.
"Isso é para nos protegermos contra interferências externas e todas as atividades separatistas. Estaremos sempre prontos para responder com o uso da força ou outros meios necessários à interferência de forças externas ou ação radical de elementos separatistas. Nosso objetivo final é garantir as perspectivas de reunificação pacífica da China e avançar nesse processo", diz o texto.
O documento é um livro branco com a posição do Partido Comunista Chinês sobre Taiwan. Este é o terceiro livro branco publicado pelo partido, o primeiro foi em 1993 e o último em 2000. Em ambos, a China prometia não enviar tropas ou funcionários, uma promessa que foi retirada neste novo documento, segundo apontou a agência Reuters.
Um porta-voz do partido informou à agência chinesa Xinhua que os dois primeiros livros brancos forneceram uma elaboração abrangente e sistemática dos princípios e políticas básicos sobre a resolução da questão de Taiwan.
— Como o rejuvenescimento nacional da China se tornou uma inevitabilidade histórica, agora temos melhores condições, mais confiança e maiores capacidades para alcançar a reunificação nacional. Como a China embarcou em uma nova jornada para construir um país socialista moderno em todos os aspectos, é necessário emitir um novo livro branco sobre a reunificação nacional — afirmou o porta-voz.
Resposta à visita de Nancy Pelosi
O comunicado segue após quase uma semana de disparos de mísseis e incursões em águas e espaço aéreo de Taiwan por navios de guerra chineses e aviões da força aérea. As ações interromperam voos e remessas em uma região crucial para as cadeias de suprimentos globais, provocando forte condenação dos Estados Unidos, Japão e outros países.
A China diz que suas ações foram motivadas pela visita, na semana passada, da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, mas o governo da ilha diz que essas visitas são rotineiras e que a China usou sua viagem apenas como pretexto para aumentar suas ameaças.
Em uma resposta adicional à visita de Pelosi, a China disse que está cortando o diálogo sobre questões que vão de segurança marítima a mudanças climáticas com os EUA, o principal apoiador militar e político de Taiwan.
O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, alertou na terça-feira (9) que os exercícios militares chineses refletiam as ambições de controlar grandes áreas do Pacífico ocidental, enquanto Taipé conduziu seus próprios exercícios para destacar sua prontidão para se defender.
— A estratégia de Pequim incluiria controlar os mares do leste e do sul da China através do Estreito de Taiwan e impor um bloqueio para impedir que os EUA e seus aliados ajudem Taiwan no caso de um ataque — disse Wu.
Fim dos exercícios
Pequim estendeu os exercícios em andamento sem anunciar quando terminariam, mas, nesta quarta (10), veio o anúncio do fim. O Ministério da Defesa emitiu uma declaração dizendo que os exercícios atingiram seus objetivos de enviar um aviso àqueles que favorecem a independência formal de Taiwan e seus apoiadores estrangeiros.
— A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, e seu governo do Partido Democrático Progressista estão empurrando Taiwan para o abismo do desastre e, mais cedo ou mais tarde, serão pregados no pilar da vergonha histórica — disse o porta-voz do Ministério da Defesa, coronel Tan Kefei, que foi citado em um comunicado no site do Ministério.
Separação
Taiwan se separou do continente em meio à guerra civil em 1949, e seus 23 milhões de habitantes se opõem à unificação política com a China, preferindo manter laços econômicos estreitos e independência de fato.
— As tropas irão monitorar as mudanças na situação no Estreito de Taiwan, continuar a conduzir treinamento e preparativos militares, organizar patrulhas regulares de prontidão de combate no estreito e defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial — completou.
Pressão será mantida
Mas ainda que os exercícios militares que jogaram tensão no Estreito de Taiwan por quase uma semana tenham terminado, a China deixou claro que sua política de pressão continuará. A nova estratégia parece ser a de buscar manter ainda mais influência daqui para frente.
Por meio de suas manobras, a China se aproximou das fronteiras de Taiwan e pode estar buscando estabelecer um novo normal no qual possa eventualmente controlar o acesso aos portos e ao espaço aéreo da ilha.
Juntamente com o lançamento de mísseis, os exercícios de quase uma semana contaram com navios e aviões chineses cruzando a linha central do Estreito, que há muito é visto como um amortecedor contra conflitos diretos.
Os Estados Unidos, principal apoiador de Taipé por meio de sua política e ambiguidade estratégica, também se mostraram dispostos a enfrentar as ameaças da China. Washington não tem laços diplomáticos formais com Taiwan em deferência a Pequim, mas é legalmente obrigado a garantir que a ilha autônoma possa se defender e tratar todas as ameaças contra ela como questões de grande preocupação.
Isso deixa em aberto a questão se Washington enviaria forças se a China atacasse Taiwan. O presidente estadunidense Joe Biden disse repetidamente que os EUA devem fazê-lo — mas os membros de sua equipe rapidamente recuaram desses comentários.
Além dos riscos geopolíticos, uma crise prolongada no Estreito de Taiwan — uma via importante para o comércio global — pode ter grandes implicações para as cadeias de suprimentos internacionais em um momento em que o mundo já enfrenta interrupções e incertezas após a pandemia de coronavírus e a guerra na Ucrânia. Em particular, Taiwan é um fornecedor crucial de chips de computador para a economia global, incluindo o setor de alta tecnologia da China.