Com o aquecimento global, o maior reservatório dos Estados Unidos seca pouco a pouco. A poucos quilômetros dos majestosos e vibrantes cassinos de Las Vegas, as águas do Lago Mead recuam, revelando o lixo de fins de semana agitados. Mas na margem deste reservatório outros vestígios começaram a surgir, como corpos de pessoas mortas pela máfia.
O esqueleto de um homem baleado na cabeça e jogado no reservatório em um barril há quatro décadas apareceu há algumas semanas.
— A máfia costumava colocar as pessoas em barris, para jogá-los no reservatório ou no campo — informou Geoff Schumacher, vice-presidente de exposições e programas do Museu da Máfia em Las Vegas.
Geoff ainda relatou que o fato da pessoa ter sido baleada na cabeça é um forte indício de que o crime foi cometido pela máfia entre os anos de 1970 e 1980, quando a organização criminosa dominava a região.
O corpo misterioso
A polícia de Las Vegas ainda investiga o corpo encontrado no Lago Mead e nenhum detalhe foi divulgado.
Schumacher tem algumas hipóteses sobre a identidade da vítima. Uma delas é de que o corpo seja de Jay Vandermark, que trabalhou no StarDust Hotel, que era controlado por Frank "Lefty" Rosenthal em nome da máfia de Chicago.
Rosenthal, que foi interpretado no cinemas por Robert DeNiro no filme Cassino, desviava dinheiro para seus chefes até que o esquema chamou a atenção das autoridades locais. Vandermark desapareceu pouco tempo depois.
O vice-presidente de exposições não descarta a possibilidade do corpo ser de Harry Pappas, outro homem ligado à máfia de Chicago e que estava no comando de um barco que o Stardust Hotel mantinha no reservatório formado após a construção da represa Hoover.
— Antes de desaparecer, (Pappas) disse à esposa que almoçaria com alguém interessado em comprar seu barco. Nunca mais vimos Harry Pappas — relembrou Geoff.
De acordo com Schumacher, muitas vítimas foram assassinadas a sangue frio pela organização criminosa. Qualquer pessoa que fosse contra a máfia ou representasse algum perigo aos seus negócios, sofria consequências.
A "terra dos cassinos"
Um oásis improvável de hotéis, cassinos e vícios floresceu no deserto de Nevada no século 20. Las Vegas foi fundada em 1905, mas sua população só cresceu quando a construção da represa Hoover começou nas proximidades.
A chegada de trabalhadores da construção civil criou um mercado de entretenimento que foi preenchido por profissionais do sexo, artistas e jogos de azar. Em pouco tempo, a região foi dominada pelo crime organizado.
— A máfia desempenhou um grande papel no desenvolvimento de Las Vegas nas décadas de 1940 e 1980 — explicou Schumacher.
Para o vice-presidente de exposições, as organizações criminosas controlavam a gestão dos cassinos, o que auxiliou na expansão e popularização dos jogos.
Após a Segunda Guerra Mundial, Las Vegas se tornou a capital mundial dos jogos. Mafiosos em cidades distantes como Chicago, Cleveland ou Nova York queriam sua parte de cada US$ 100 que um turista girava na roleta enquanto bebia álcool grátis.
O desvio de dinheiro, que sem dúvidas custou milhões de dólares à cidade em impostos perdidos, era uma prática comum e pouco investigada na época.
— Também criaram essa imagem mística sobre Las Vegas. As pessoas vinham pensando "talvez quando eu me sentar em um bar, haverá um mafioso ao meu lado" — contou Geoff.
Mudanças climáticas
Segundo Schumacher, um dos passeios mais aguardados pelos grandes apostadores que visitavam Las Vegas era conhecer o reservatório em um barco. Atualmente, o Lago Mead perdeu mais da metade de seu volume e não mostra sinais de recuperação, pois a ação humana continua a alterar os padrões climáticos.
Devido às mudanças climáticas, Geoff acredita que o lago continue secando e, com isso, novos segredos poderão aparecer em sua costa, inclusive o surgimento de novos corpos.
— Não sei se encontraremos outro corpo em um barril, mas acredito que haja outras vítimas de homicídio ali — finalizou.