A economista Silvina Batakis assumiu nesta segunda-feira (4) como nova ministra da Economia em uma Argentina cheia de incertezas: com uma das inflações mais altas do mundo e duras metas a cumprir no âmbito de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Funcionária pública de carreira e com militância no setor mais crítico do acordo com o FMI, Silvina deve definir com quais instrumentos vai enfrentar o déficit fiscal, a escassez de divisas e a alta dos preços.
Como seguirá o acordo com o FMI?
A Argentina renegociou este ano um acordo de US$ 44,5 bilhões com o FMI, ratificado pelo Congresso.
Esse acordo prevê uma redução do déficit fiscal de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), registrado em 2021, para 2,5% em 2022, 1,9% em 2023 e 0,9% em 2024.
— A primeira pergunta que a nova ministra deverá responder é se o acordo com o Fundo Monetário Internacional continua vigente — disse Víctor Beker, diretor do Centro de Estudos da Nova Economia da Universidade de Belgrano. — A incógnita é se haverá uma reformulação das metas ou se a Argentina se dirige a uma ruptura com o Fundo Monetário Internacional — disse Beker.
Como vai combater a inflação?
A Argentina tem uma das taxas de inflação mais altas do mundo, com 60,7% no período de maio de 2021 a maio de 2022, e há temores de que a alta nos preços aumente ainda mais.
O governo do presidente Alberto Fernández insistiu em que o fenômeno é multicausal, e destacou que atualmente ocorre em todo o mundo.
Mas Silvina terá que determinar que tipo de medidas priorizar: se um endurecimento no esquema de preços cuidados, um mecanismo voluntário de controle de preços do qual participa o setor privado, ou maiores restrições à emissão de moedas.
A economista Marina Dal Poggetto, diretora da consultoria EcoGo, a definiu como "um quadro político mais do que técnico", que pode impulsionar medidas heterodoxas.
Déficit fiscal e subsídios
No fim de junho, o FMI aprovou a primeira revisão do programa de facilidades estendidas da Argentina, correspondente ao primeiro trimestre deste ano e autorizou o desembolso de 4,01 bilhões de dólares.
Mas os analistas coincidem em que a segunda revisão será mais difícil de superar.
Para aliviar a pressão sobre as finanças públicas, seu antecessor no Ministério da Economia, Martín Guzmán, planejou uma segmentação dos subsídios às tarifas da eletricidade e do gás, de forma que apenas sejam beneficiados os setores mais desfavorecidos economicamente.
O esquema ainda não foi aplicado no momento de sua renúncia neste fim de semana. Silvina deverá decidir se o mantém ou se apresenta uma nova versão.
Em 2021, os subsídios à energia representaram 11 bilhões de dólares, o equivalente a 2,3% do PIB.
Reservas internacionais
As reservas internacionais brutas da Argentina estão em cerca de US$ 42,5 bilhões. Mas os analistas destacam que as líquidas - descontadas as reservas bancárias ou um swap com a China, entre outros - são muito inferiores e insuficientes para os requerimentos do país.
— A Argentina não está alcançando a meta de acúmulo de reservas internacionais acordado com o FMI e isso gera uma expectativa de maior desvalorização ou depreciação do peso — disse à AFP o economista Andrés Wainer.
E o panorama para o segundo semestre do ano não parece bom, pois é um tempo no qual já foi liquidada a colheita agrícola e, portanto, não entram mais divisas por este conceito; também conspira o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos - que tende a fortalecer o dólar -, informou o economista.