Vítima de bullying no colégio, com dificuldades em casa e histórico de automutilações: o adolescente que matou a tiros 21 crianças em uma escola do Texas, nos Estados Unidos, na terça-feira (24), tinha antecedentes problemáticos, similares aos de outros autores de massacres escolares.
O jovem de 18 anos, que foi morto enquanto a polícia tentava prendê-lo, era um cidadão americano de origem hispânica e estudante em Uvalde, onde ocorreu a tragédia, uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, próxima à fronteira com o México.
A conta dele no Instagram, agora removida, mostrava fotos de um jovem com cabelo nos ombros e olhos fechados. O perfil também incluía imagens de dois rifles semiautomáticos e um carregador de pistolas.
Um dia depois do atentado na escola primária Robb, que também deixou dois professores mortos, vieram a público detalhes sobre o jovem, que supostamente saiu andando e atirando pelo local e depois se entrincheirou em uma sala de aula, disparando contra todos os presentes.
A prima do atirador contou ao jornal The Washington Post que ele era ridicularizado durante o Ensino Fundamental por gaguejar e ter a língua presa, e pedia a avó para parar de frequentar a escola — nos EUA, o ensino domiciliar é regularizado.
Stephen Garcia, um antigo amigo do autor do massacre, confirmou que o bullying era um problema:
— Ele era fortemente atormentado, por muitas pessoas — disse Garcia ao jornal.
Outro amigo, Santos Valdez, lembrou que o jovem uma vez se cortou no rosto "só por diversão".
A imprensa americana também informou que o atirador tinha problemas com a mãe que, segundo vizinhos, era usuária de drogas. Os conflitos entre os dois eram tão graves que a polícia já precisou ser chamada, disseram.
O bullying e os problemas de saúde mental se tornaram denominadores comuns nos trágicos e frequentes tiroteios mortais em instituições de ensino nos Estados Unidos.
Há mais de 20 anos, dois adolescentes que haviam sofrido assédios por parte de outros alunos mataram 13 pessoas e tiraram suas vidas na escola secundária onde estudavam em Columbine, no Estado do Colorado.
Em 2007, um estudante com problemas mentais matou 32 pessoas em um massacre no Instituto Politécnico de Virgínia. O agressor, que também se suicidou, havia se referido aos atiradores de Columbine como "mártires" em um vídeo antes do ataque.
Também tinham transtornos mentais o autor do tiroteio na escola primária Sandy Hook, em Connecticut, que em 2012 matou 26 pessoas, e o estudante que foi expulso por motivos disciplinares e depois matou 17 pessoas em uma escola secundária em Parkland, na Flórida, em 2018.
Tiro na avó
A primeira vítima do ataque perpetrado pelo jovem no Texas foi a avó dele, informou Erick Estrada, do Departamento de Segurança Pública do Estado, que acrescentou que a mulher havia sido transportada de helicóptero a um centro médico.
Uma mulher de 66 anos deu entrada em um hospital de San Antonio em estado crítico logo após o incidente, segundo profissionais de saúde, que não forneceram mais detalhes.
Depois de atirar contra a avó, o jovem fugiu de carro vestindo um colete à prova de balas e armado com um rifle de assalto, relatou Estrada. O jovem bateu com o carro perto de uma vala do lado de fora da escola primária Robb, saiu e se dirigiu ao local, onde policiais tentaram detê-lo, mas não conseguiram. Por volta das 11h30min locais (13h30min de Brasília), ele invadiu o colégio e abriu fogo.
Pete Arredondo, chefe da polícia do distrito escolar de Uvalde, responsável pela investigação, afirmou que o homem agiu sozinho.
O governador do Texas, Greg Abbott, disse que os investigadores ainda estavam tentando reconstituir o ocorrido. Eles estão trabalhando para reunir "informações detalhadas sobre os antecedentes do sujeito, sua motivação, os tipos de armas utilizadas, a autoridade legal para possuí-las, e realizar uma investigação e reconstituição completa da cena do crime", explicou Abbott.