Xangai anunciou nesta segunda-feira (18) três mortes por covid-19, os primeiros óbitos desde que a cidade chinesa iniciou um prolongado confinamento que provocou irritação e protestos.
"O estado das três pessoas piorou depois que foram internadas no hospital. Morreram depois que os esforços para salvá-las se mostraram ineficazes", afirmou a prefeitura em uma rede social.
Os mortos são duas mulheres de 89 e 91 anos e um homem de 91, segundo o governo local, que também informou que os três tinham comorbidades, incluindo problemas cardíacos, diabetes e pressão alta.
Xangai, a maior cidade da China com 25 milhões de habitantes, enfrenta um confinamento desde março, com o surto mais grave de covid-19 no país desde o início da pandemia.
O grande centro econômico do país registrou nesta segunda-feira 22.248 novos casos locais, incluindo 2.417 sintomáticos, de acordo com a comissão municipal de saúde.
O nível de contágios é relativamente reduzido em comparação com outros surtos da doença no mundo, mas reflete uma tendência das últimas semanas, com dezenas de milhares de casos por dia, a maioria assintomáticos.
As autoridades insistem em manter a política de tolerância zero com o vírus, o que inclui restrições de deslocamentos e o isolamento das pessoas infectadas, mesmo as que não apresentam sintomas.
Baixo índice de vacinação
Os moradores de Xangai, uma das cidades mais ricas e cosmopolitas da China, criticam as restrições pela falta de alimentos, as condições inadequadas nos centros de quarentena e a aplicação drástica das medidas.
Nas redes sociais, muitos criticaram as autoridades depois que profissionais da saúde mataram um cachorro porque os donos do animal testaram positivo para covid. Também questionam a política de separar as crianças diagnosticadas com o coronavírus de seus pais, embora esta medida tenha sido flexibilizada.
Em mais um indício do descontentamento, vídeos publicados nas redes sociais mostram alguns moradores discutindo com policiais em trajes de proteção que ordenaram que eles cedessem suas casas a pacientes infectados.
Outros vídeos mostram o desespero dos habitantes de Xangai, incluindo alguns que pularam as barricadas para exigir comida. As autoridades, porém, não planejam flexibilizar as restrições.
O ministério da Saúde afirma que suavizar as restrições poderia saturar o sistema hospitalar e provocar milhões de mortes. E a taxa de vacinação continua baixa entre os idosos: pouco mais da metade das pessoas com mais de 80 anos recebeu a dose de reforço.
Ano sensível
O Partido Comunista Chinês utiliza o pequeno número de mortes como argumento político, alegando que prioriza a vida da população e não as questões econômicas, ao contrário das democracias ocidentais, onde o coronavírus provocou muitas mortes.
Mas as considerações políticas também estão em jogo, de acordo com vários analistas. O partido organizará uma reunião importante no fim de 2022, na qual o presidente da China, Xi Jinping, deve obter o terceiro mandato de cinco anos à frente da formação.
— Este é um ano sensível e crucial para o regime — disse Lynette Ong, professora de Ciências Políticas da Universidade de Toronto (Canadá).
As autoridades chinesas notificaram apenas 4.641 mortes provocadas pelo coronavírus desde o início da pandemia no fim de 2019, um número extremamente reduzido levando em consideração que a China é o país mais populoso do mundo (1,4 bilhão de habitantes).
A China, primeiro país a detectar o coronavírus, reduziu os contágios ao mínimo graças a sua política de "covid zero", com testes em larga escala, restrições de viagens e confinamentos direcionados.
Mas o país luta para conter surtos em várias cidades desde o surgimento da variante Ômicron, mais contagiosa.
A China havia registrado mortes por covid em 19 de março, quando duas pessoas faleceram na cidade de Jilin (nordeste do país), os dois primeiros óbitos pela doença no país em mais de um ano.