O chanceler da Áustria, Karl Nehammer, será nesta segunda-feira (11) o primeiro chefe de Governo europeu a viajar a Moscou desde o início da invasão da Ucrânia, uma missão arriscada, enquanto Kiev se prepara para uma ofensiva russa de larga escala no leste do país. A Rússia, que retirou suas tropas da região de Kiev e do norte da Ucrânia, concentra a ofensiva no Donbass (leste), parcialmente controlada desde 2014 por separatistas pró-Moscou.
— A próxima semana não será menos importante que esta nem as anteriores. As tropas russas passarão a (fazer) operações ainda maiores no leste de nosso Estado — advertiu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em um comunicado divulgado no domingo à noite.
"A batalha por Donbass vai durar vários dias, e durante estes dias as cidades podem ficar totalmente destruídas", afirmou no Facebook Serguii Gaidai, governador de Lugansk.
"O cenário de Mariupol pode se repetir na região de Lugansk", alertou, em referência ao grande porto do sudeste do país, devastado e cercado desde o fim de fevereiro pelas tropas russas.
O ministério russo da Defesa acusou no domingo Kiev e os países ocidentais de provocações "monstruosas e sem piedade" e pelas mortes de civis em Lugansk. Analistas acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, quer assumir o controle da região antes do desfile militar de 9 de maio, que celebra a vitória soviética contra os nazistas.
Minas e obstáculos antitanques
À espera da ofensiva russa, as forças ucranianas tentavam fortificar suas posições e cavar novas trincheiras na zona rural de Barvinkove, leste do país. Os soldados instalaram obstáculos antitanques nos cruzamentos das estradas e minas em toda área.
A população tenta fugir para zonas mais seguras, enquanto os bombardeios prosseguem: no domingo duas pessoas morreram em Kharkiv (leste), a segunda maior cidade do país, anunciaram as autoridades locais.
— O exército russo continua fazendo a guerra contra os civis, na ausência de vitórias no front — acusou o governador regional Oleg Sinegubov.
Nos arredores de Kiev, ocupados por forças russas há várias semanas, a busca por corpos continua.
— Temos até agora 1.222 mortos apenas na região de Kiev — disse a procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, em uma entrevista ao canal britânico Sky News, na qual citou 5.600 investigações abertas por supostos crimes de guerra desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.
Ela não revelou se os corpos encontrados eram exclusivamente de civis.
Na cidade de Bucha, ao noroeste da capital ucraniana, que virou um símbolo das atrocidades da guerra, quase 300 corpos foram enterrados em valas comuns, de acordo com um balanço divulgado pelas autoridades em 2 de abril.
Em Buzova, também perto de Kiev, foram encontrados dois corpos, com trajes civis, na saída de uma rede de esgoto, constataram correspondentes da AFP. Uma mulher entrou em desespero ao reconhecer um cadáver: "Meu filho, meu filho", gritou.
"Missão de risco"
No plano diplomático, o chanceler austríaco, Karl Nehammer, que visitou a Ucrânia no sábado, viajará nesta segunda-feira a Moscou para uma reunião com Putin.
Nehammer declarou que tem "a intenção de fazer todo o possível para que sejam adotadas medidas a favor da paz", mas reconheceu que tem poucas possibilidades de alcançar a sua meta.
A viagem a Moscou é "uma missão de risco", mas também uma "janela de diálogo", afirmou, antes de insistir no poder da "diplomacia pessoal". Também espera falar sobre os "crimes de guerra" em Bucha, que visitou no sábado.
— Bucha não aconteceu em um dia. Durante muitos anos, as elites políticas russas e a propaganda incitaram o ódio, desumanizaram os ucranianos, alimentaram a superioridade russa e prepararam o terreno para estas atrocidades — afirmou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.
Apesar das acusações, Kuleba disse que continua aberto a negociar com a Rússia.