A Ucrânia e a Rússia fizeram "progressos significativos" em um plano de paz provisório de 15 pontos, incluindo um cessar-fogo e a retirada russa se Kiev declarar neutralidade e aceitar limites para suas forças armadas, segundo três pessoas envolvidas nas negociações afirmaram ao jornal britânico Financial Times.
"O acordo proposto, que os negociadores ucranianos e russos discutiram na íntegra pela primeira vez na segunda-feira (14), envolveria Kiev renunciando às suas ambições de ingressar na Otan e prometendo não hospedar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados como Estados Unidos, Reino Unido e Turquia", diz o Financial Times.
A natureza das garantias ocidentais para a segurança ucraniana — e a aceitação de Moscou — ainda pode ser um grande obstáculo para qualquer acordo, assim como o status dos territórios ucranianos tomados pela Rússia em 2014. Um acordo de 1994 que sustentava a segurança ucraniana falhou em evitar a agressão russa contra o seu vizinho.
Embora Moscou e Kiev tenham dito nesta quarta-feira (16) que "fizeram progresso" nos termos de um acordo, autoridades ucranianas continuam céticas de que o presidente russo, Vladimir Putin, esteja totalmente comprometido com a paz e teme que Moscou possa estar ganhando tempo para reagrupar suas forças e retomar sua ofensiva.
Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodimir Zelensky, disse ao Financial Times que qualquer acordo envolveria "a retirada total das tropas da Federação Russa do território da Ucrânia", ocupadas desde o início da invasão em 24 de fevereiro — ou seja, regiões do sul ao longo os mares Azov e Negro, bem como território a leste e norte de Kiev.
A Ucrânia manteria suas forças armadas, mas seria obrigada a ficar fora de alianças militares como a Otan e a se abster de hospedar bases militares estrangeiras em seu território.
O secretário de imprensa de Putin, Dmitri Peskov, disse a repórteres nesta quarta-feira (16) que a neutralidade para a Ucrânia com base no status da Áustria ou da Suécia é uma possibilidade.
— Esta opção está realmente sendo discutida agora e pode ser considerada neutra — disse Peskov.
Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, disse que "detalhes absolutamente específicos" estavam "próximos de serem acordados" nas negociações.
O maior ponto de discórdia continua sendo a exigência da Rússia de que a Ucrânia reconheça sua anexação da Crimeia em 2014 e a independência de dois Estados separatistas na região da fronteira oriental de Donbass.
A Ucrânia até agora recusou, mas está disposta a compartimentar a questão, disse Podoliak.
— Territórios disputados e em conflito estão em um caso separado. Até agora, estamos falando de uma retirada garantida dos territórios ocupados desde o início da operação militar em 24 de fevereiro, quando começou a invasão da Rússia — disse ele.
Ataques a principais cidades continuam
Apesar do progresso nas negociações de paz, as cidades ucranianas continuam sob forte bombardeio. As forças armadas ucranianas lançaram contra-ataques contra tropas russas fora da capital, Kiev, e em Kherson, ocupada pelos russos. A informação é de um alto oficial militar ucraniano. O objetivo é causar baixas em massa aos militares russos, em vez de reconquistar o território.
A operação começou na noite de terça-feira (15) e segue nesta quarta. Segundo o militar ucraniano, o contra-ataque envolveu artilharia, caças e tanques.
Imagens de satélite desta terça-feira mostram uma forte fumaça negra acima do aeroporto de Kherson, local onde o oficial disse que os ucranianos atacaram aeronaves militares russas estacionadas.
Discurso no Congresso dos EUA
Em um discurso virtual a membros do Congresso nesta quarta-feira, Zelensky pediu aos EUA que imponham uma zona de exclusão aérea ou forneçam caças ou outros meios para afastar o ataque da Rússia a seu país e impor sanções econômicas mais duras a Moscou.
Em um apelo dramático, Zelenski disse que a Ucrânia precisava do apoio dos Estados Unidos depois que a Rússia lançou uma "ofensiva brutal contra nossos valores". Ele pediu aos norte-americanos que se lembrassem dos ataques a Pearl Harbor e de setembro de 2001 e mostrou um vídeo dos ataques com mísseis e bombardeios destruindo cidades ucranianas.
— Não existe um sistema efetivo de segurança europeia agora, que seria moderado pela Otan. Assim que uma guerra séria começou na Europa, a Otan rapidamente se afastou — disse Podoliak. — Propomos um "modelo ucraniano de garantias de segurança", que implica a participação imediata e legalmente verificada de vários países garantidores no conflito do lado da Ucrânia, se alguém invadir novamente sua integridade territorial — acrescentou.