A emissora americana Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), com sede em Praga, na República Tcheca, faz o possível para romper "o muro de propaganda russa", no momento em que Moscou movimenta tropas na fronteira com a Ucrânia.
A rádio, financiada pelo Congresso dos Estados Unidos, foi criada em 1950 para fazer transmissões de conteúdo contrário ao bloco comunista e contribuiu, quatro décadas depois, para a queda dos regimes totalitários nas regiões central e leste da Europa.
Atualmente, transmite conteúdo em 27 idiomas - incluídos o russo, o bielorrusso e o ucraniano - em 23 países, em muitos dos quais existem restrições duras à liberdade de imprensa.
Na Ucrânia, a emissora tem mais de 200 jornalistas e exerce um papel muito importante na cobertura das tensões na fronteira com a Rússia, explica à AFP Kiryl Sukhotski, diretor regional para a Europa e chefe da produção televisiva.
"Nosso papel é fornecer informação objetiva e imparcial ao nosso público dos dois lados do conflito", garante. "Somos uma mídia substituta e não tomamos partido". "Atravessamos o muro de propaganda russa", insiste.
A RFE/RL, que visa uma audiência de 37 milhões de pessoas, aumentou suas atividades na região depois da anexação da Crimeia por parte da Rússia, em 2014, e da guerra no leste da Ucrânia com os separatistas pró-russos, supostamente apoiados por Moscou, embora o Kremlin negue.
Os jornalistas da rádio recebem constantes ameaças por parte de funcionários russos e rebeldes ucranianos. Alguns deles, inclusive, podem acabar na prisão, como Vladislav Yesipenko, detido em março e que pode ser condenado a 15 anos de reclusão por acusações de espionagem.
A RFE/RL também se organiza para combater a desinformação russa, com vários canais midiáticos de "reação rápida".
"Criamos uma nova unidade em Kiev que agirá rapidamente, no mesmo dia, contra as informações falsas, a desinformação, a propaganda, dizendo simplesmente: 'de acordo, isto é verdade e isto não é verdade'", aponta Sukhotski.
Para o diretor, a função de seu veículo é "apresentar o contexto" para que a audiência possa "tomar suas próprias decisões". Por isso que "as autoridades russas nos veem como uma ameaça", afirmou.
Desde 2017, a RFE/RL foi classificada por Moscou como "agente estrangeiro", o que lhe rendeu uma série de custosos processos judiciais.
Citando as pressões russas para acabar com as transmissões da rádio, Sukhotski ressalta que isso evidencia a necessidade de dispor de vários canais para transmitir seu conteúdo.
"É possível bloquear um site, mas será muito difícil bloquear Facebook ou YouTube. A Rússia ainda não chegou a esse ponto", adverte. "Essa é a vantagem das redes sociais, pois nos permitem estar presentes mesmo com todas as tentativas de bloqueio."
* AFP