Um incêndio em um prédio residencial no bairro Bronx, em Nova York, causou a morte de pelo menos 19 pessoas, entre elas nove crianças, neste domingo (9).
O fogo começou pouco antes das 11h locais (13h de Brasília) em um apartamento duplex nos segundo e terceiro andares do edifício, segundo o Corpo de Bombeiros. De acordo com a imprensa local, mais de 60 pessoas ficaram feridas, incluindo 32 gravemente.
Os bombeiros chegaram em três minutos e encontraram uma fumaça que se estendia por toda a altura do prédio de 19 andares, disse o comissário de incêndio, Daniel A. Nigro. Ele acrescentou que "as condições de fumaça neste prédio eram sem precedentes" e que as vítimas sofreram forte inalação de fumaça.
— Equipes que entraram no prédio encontraram vítimas em todos os andares e muitas tiveram parada cardiorrespiratória — informou ele. Aproximadamente 200 bombeiros foram deslocados para a ocorrência.
— Os números são horríveis — lamentou o prefeito Eric Adams em uma entrevista coletiva na tarde deste domingo. — Este será um dos piores incêndios que testemunhamos nos tempos modernos.
A causa não foi imediatamente esclarecida. O comissário Nigro disse que a porta do apartamento onde o incêndio começou foi deixada aberta, o que ajudou a alimentar o fogo e permitiu a propagação da fumaça.
— Nós espalhamos a ordem: 'feche a porta, feche a porta' — para conter o fogo.
A moradora do prédio Cristal Diaz, 27 anos, declarou ao jornal New York Post que começou a colocar toalhas molhadas na parte inferior da porta após sentir o cheiro de fumaça enquanto bebia café em sua sala de estar. "Tudo estava uma loucura", afirmou ela. "Não sabíamos o que fazer. Olhamos pelas janelas e vimos todos os mortos que estavam levando com os cobertores"
O prédio de 120 apartamentos é um dos vários edifícios do complexo Twin Parks Northwest e foi construído em 1973 como parte de um projeto para criar moradias modernas e acessíveis em todo o Bronx.
— Muitos desses prédios são antigos. Nem todos os apartamentos possuem alarme de incêndio — explicou o deputado americano Ritchie Torres, democrata que representa a área, ao canal MSNBC. — A maioria desses prédios não tem sistema de sprinklers. E, portanto, o risco de incêndio é muito maior em bairros de baixa renda, no Bronx, do que em qualquer outro lugar da cidade ou do país.
Nigro e Torres compararam a gravidade do ocorrido a um incêndio em 1990 no clube social Happy Land, onde 87 pessoas morreram quando um homem ateou fogo ao prédio depois de entrar em uma discussão com sua ex-namorada e ser expulso do clube do Bronx. O número de mortos deste domingo já é o maior em um incêndio na cidade desde o incêndio de Happy Land.
É também o incêndio mais mortal em um prédio residencial nos Estados Unidos desde 2017, quando 13 pessoas morreram em um edifício de apartamentos, também no Bronx, de acordo com dados da National Fire Protection Association.
Moradores pensaram que era alarme falso
Os grandes e novos edifícios de apartamentos na cidade devem ter sistemas de sprinklers e portas internas que se fecham automaticamente para conter a fumaça e privar o oxigênio do fogo, mas essas regras não se aplicam a milhares de edifícios mais antigos da cidade.
A moradora do prédio Sandra Clayton agarrou seu cachorro Mocha e correu para salvar sua vida quando viu o corredor se encher de fumaça e ouviu pessoas gritando: "Saia! Saia!". Clayton, 61 anos, disse que tateou seu caminho enquanto descia uma escada escura, segurando Mocha. A fumaça era tão escura que ela não conseguia ver, mas podia ouvir os vizinhos gemendo e chorando nas proximidades.
— Eu simplesmente desci os degraus o máximo que pude, mas as pessoas estavam caindo em cima de mim, gritando — Clayton contou de um hospital onde ela foi tratada por inalação de fumaça. Na comoção, seu cachorro escorregou de suas mãos e mais tarde foi encontrado morto na escada.
Jose Henriquez, um imigrante da República Dominicana que mora no 10º andar, disse que os alarmes de incêndio do prédio disparavam com frequência, mas eram falsos.
— Parece que hoje eles dispararam, mas o povo não prestou atenção — disse Henriquez em espanhol.
Ele e sua família ficaram colocando toalhas molhadas sob a porta assim que perceberam que a fumaça nos corredores os dominaria se tentassem fugir.
Luis Rosa disse que inicialmente também pensou que era um alarme falso. Quando ele abriu a porta de seu apartamento no 13º andar, a fumaça era tão densa que ele não conseguia ver o corredor.
— Então eu disse: ok, não podemos descer as escadas correndo porque, se descermos correndo, vamos acabar sufocando.
— Tudo o que podíamos fazer era esperar — disse ele.
O incêndio foi o mais mortal em Nova York desde 1990, quando 87 pessoas morreram em um incêndio criminoso no clube social Happy Land, também no Bronx. O bairro também foi o lar de um incêndio mortal em um prédio de apartamentos em 2017, que matou 13 pessoas, e um incêndio em 2007, também iniciado por um aquecedor, que matou nove.
Ao menos 13 pessoas seguem em estado grave
Dezenas de pessoas foram hospitalizadas e até 13 estavam em estado crítico após o incêndio de domingo no Bronx, já considerado o mais mortal da cidade em três décadas. A causa teria sido um aquecedor elétrico com defeito, conectado para fornecer calor extra em uma manhã fria, apontam os investigadores.
Daniel Nigro afirmou que algumas pessoas não conseguiram escapar por causa da quantidade de fumaça e outras ficaram incapacitadas enquanto tentavam sair. Os bombeiros encontraram vítimas em todos os andares, muitas com parada cardíaca e respiratória. Crianças em estado de fraqueza foram vistas recebendo oxigênio após serem carregadas. Alguns dos que fugiram tinham o rosto coberto de fuligem.
Os bombeiros continuaram fazendo resgates mesmo depois que seu suprimento de ar acabou, disse o prefeito Eric Adams.
— Seus tanques de oxigênio estavam vazios e eles ainda atravessaram a fumaça — disse Adams.
O comissário dos bombeiros disse que uma investigação está em andamento para determinar como o fogo se espalhou e se algo poderia ter sido feito para prevenir ou conter o incêndio. O prédio é equipado com alarmes de fumaça, mas vários residentes inicialmente ignoraram o sinal porque disparos do alarme costumavam ser comuns na unidade de 120 apartamentos.