Autoridades escolares de um condado do sul dos Estados Unidos proibiram a clamada HQ "Maus", sobre o Holocausto, por considerá-la de conteúdo "impróprio", em um novo episódio da atual guerra escolar em estados conservadores do país.
No livro de 1986, Art Spiegelman relata as lembranças do pai, sobrevivente do Holocausto, no qual os judeus são representados por ratos e os nazistas, por gatos.
Ganhador de um prêmio Pulitzer em 1992, o primeiro para uma revista em quadrinhos, "Maus" foi traduzido para mais de 20 idiomas.
No entanto, seu conteúdo foi considerado "vulgar e impróprio" para alunos do ensino médio, segundo a Junta Escolar do condado de McMinn no Tennessee, que votou em 10 de janeiro para eliminá-lo do currículo até que outro livro sobre o Holocausto seja encontrado.
"Este livro tem uma linguagem ofensiva e desagradável", explicou o diretor do conselho, Lee Parkison, segundo a ata da reunião, referindo-se a oito palavrões e uma imagem de uma mulher nua.
O livro "mostra gente sendo enforcada, gente matando crianças. Por que o sistema educacional promove essas coisas? Não é sábio, nem sadio", disse um dos participantes.
"Não somos contra ensinar sobre o Holocausto", acrescentou. "Não nego que foi horrível, brutal e cruel".
Outros membros da junta defenderam o livro. "Foi uma boa forma de retratar um período terrível da história", difícil de ensinar às crianças que "nem sequer sabem sobre o 11 de setembro", disse um ex-professor da história.
Entrevistado pela emissora CNN nesta quinta-feira, Spiegelman disse ter mergulhado em uma "confusão total" antes de "tentar ser tolerante com essas pessoas que poderiam não ser nazistas", mas "que se concentraram em algumas palavras pesadas".
Nesta quinta-feira celebra-se o 77º aniversário de liberação do campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau. Por isso, o Museu do Holocausto de Washington enfatizou, em sua conta no Twitter, que "Maus" desempenhou "um papel vital" na educação sobre o Holocausto "ao compartilhar informação detalhada e pessoal das experiências de vítimas e sobreviventes".
A decisão ocorre em um contexto de questionamento dos currículos escolares em estados conservadores, que atacam os livros sobre divisão social, como o racismo ou a identidade de gênero.
Outro clássico, "Beloved", do afro-americano Toni Morrison, foi alvo de polêmica recentemente. Uma mãe da Virgínia afirmou que seu filho do ensino médio teve pesadelos depois de ler o livro, que conta a história de uma ex-escrava que decide matar a filha para salvá-la das atrocidades da escravidão.
* AFP