Mais de 9 milhões de pessoas precisam atualmente de ajuda alimentar na zona norte da Etiópia, que vive há mais de um ano um conflito armado, afirmou Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU nesta sexta-feira (26).
O Programa Mundial de Alimentos considera que 9,4 milhões de pessoas enfrentam a fome "por causa do conflito" entre o governo e a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF). Em setembro, esse número era de 7 milhões.
Nesta sexta-feira, o PAM destacou em um comunicado que a situação humanitária na área do Tigré piorou muito nos últimos meses, assim como nas regiões de Amhara (a atual linha de frente) e Afar, para onde o conflito se espalhou.
"Mais de 80% (7,8 milhões) das pessoas que precisam de ajuda no norte da Etiópia estão longe da linha de combate", acrescentou.
A desnutrição também aumenta nessas três regiões e afeta (segundo dados do PAM) entre 16% e 28% das crianças. Em Amhara e Tigré, 50% das mulheres grávidas e lactantes estão desnutridas.
Os combates danificaram mais de 500 estabelecimentos de saúde em Amhara, afirmou na quinta-feira o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCAH).
Nesta semana, Dessie e Kombolcha receberam ajuda alimentar pela primeira vez desde que essas cidades amhara caíram nas mãos dos rebeldes do TPLF há um mês, explicou o PAM.
O governo, que declarou estado de emergência no início de novembro, impôs na quinta-feira um decreto com novas restrições sobre a divulgação de informações sobre o andamento da guerra.
O decreto estabelece que "é proibido divulgar, por qualquer meio de comunicação, qualquer movimento militar (ou) resultante (dos combates) no campo de batalha" que não tenha sido publicado oficialmente pelo governo.
"As forças de segurança adotarão as medidas necessárias contra aqueles que violarem este decreto", continua o texto, possivelmente direcionado aos meios de comunicação e contas em redes sociais que divulgam os avanços reivindicados pelos rebeldes da TPLF.
A natureza dessas medidas não foi especificada. O governo também proibiu a população de "usar diferentes tipos de plataformas de mídia para apoiar direta ou indiretamente o grupo terrorista", acrescenta, referindo-se à TPLF.
Este conflito começou em novembro do ano passado, depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas ao Tigré em resposta (segundo Ahmed) aos ataques da TPLF a acampamentos do exército.
Ahmed declarou, então, que seria uma ação rápida contra a TPLF, partido que governou a Etiópia por três décadas. Desde junho os rebeldes recuperaram o Tigré, estendendo os combates para as regiões vizinhas de Amhara e Afar.
Nesta semana, o TPLF declarou controlar uma cidade a 200 km da capital (Adís Abeba).
Na quarta-feira, um jornal estatal afirmou que Abiy estaria no front de combate e que os "assuntos cotidianos" seriam administrados pelo seu vice-primeiro-ministro Demeke Mekonnen.
Os recentes acontecimentos da guerra na Etiópia, com as tropas rebeldes ameaçando a capital, preocupam a comunidade internacional, que deseja alcançar um cessar-fogo.
* AFP