O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado comparece nesta semana à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), em Glasgow, na Escócia. Reconhecido mundialmente, Salgado utiliza seu prestígio há várias décadas para ajudar a causa do meio ambiente. Na COP26, ele pedirá que mais árvores sejam plantadas no mundo e, no caso da Amazônia, para reclamar simplesmente o cumprimento da lei.
— A solução para a Amazônia não é muito complicada. Um quarto das terras são indígenas, está na Constituição. Outro quarto são unidades de conservação, parques nacionais, também protegidos pela Constituição. A outra metade da Amazônia são terras públicas. Mas metade dessas terras ficam inundadas seis meses por ano. Uma terra inundada não é utilizável. E o que resta já foi destruído. Então a grande pressão se volta contra as terras indígenas, dos parques — destacou, completando:
— Se aplicarmos a lei de forma que não permita a entrada nas terras indígenas, que não se entre nas unidades de conservação, teríamos a Amazônia praticamente protegida. [...] Um apoio mundial ao aparato judicial, isto pode salvar a Amazônia.
Em seu último projeto fotográfico sobre a Amazônia – já apresentado em Paris, Londres e, em breve, chegará a várias cidades brasileiras –, Salgado conviveu, escutou e fotografou os índios da região, suas paisagens e animais, sem a intenção de virar seu porta-voz.
— Vivem um momento muito difícil, mas é preciso dizer uma coisa: os índios nunca estiveram tão ameaçados, mas nunca estiveram tão organizados.
Salgado se reunirá com empresários brasileiros que estão envolvidos na defesa da natureza. E depois vai discursar sobre o que está acontecendo na floresta em um evento dentro da conferência da ONU. Ele falará sobre aquela que tem sido sua grande batalha desde que herdou uma fazenda familiar no Estado do Minas Gerais, há mais de 30 anos: plantar milhares de árvores para regenerar as regiões exploradas com fins agrícolas.
— Quantas organizações camponesas estão na COP26? Quase nenhuma — afirma Salgado, de 77 anos, que divide o tempo entre a fazenda, Paris e os locais que visita para continuar fotografando.
Depois de fundar a ONG Instituto Terra, ele estabeleceu como objetivo plantar um milhão de árvores. Dentro e fora de sua fazenda.
— Os agricultores não são inimigos, não são pessoas reacionárias. São pessoas isoladas, que não têm a formação necessária. Mas se você dá a formação, eles se tornam aliados — explica.
Salgado afirma que tem a colaboração de 3 mil proprietários de terras no Brasil, que foram convencidos, em décadas de esforço, a plantar árvores em suas terras, a participar no esforço de regeneração. Ele acredita que isto poderia ser feito em países europeus.
— Temos que fazer com os agricultores, senão não vamos conseguir — afirma.
E, ao mesmo tempo, pretende seguir fotografando a beleza e a brutalidade do mundo contemporâneo, em preto e branco.
— Quando faço as fotos, eu as vejo em preto e branco. Isto me permite concentrar na personalidade das pessoas, das paisagens. Não é que eu não ame as cores, é que não sei fazer — admite.
Por sua longa carreira na fotografia, iniciada há quase 50 anos, Sebastião Salgado recebeu alguns dos prêmios mais importantes do mundo, como o Príncipe das Astúrias e a medalha do centenário da Royal Photographic Society.