O presidente filipino, Rodrigo Duterte, que anunciou neste sábado (2) que deixará a política, ganhou a antipatia da comunidade internacional por sua violenta guerra contra o narcotráfico e suas diatribes grosseiras, mas continua muito popular entre os cidadãos de seu país.
A campanha organizada contra o crime pelo presidente, famoso por seu tom desafiador, provocou as mortes de milhares de supostos traficantes e consumidores de drogas, e foi criticada ao redor do planeta.
Milhões de filipinos, no entanto, apoiaram sua visão expedita da justiça, apesar de suas piadas sobre estupro, as ações para calar os críticos e seu fracasso em combater a corrupção enraizada que corrói o país.
As pesquisas mostram que Duterte continua quase tão popular como quando chegou ao poder, em 2016, quando prometeu que livraria o país das drogas.
Uma confiança que foi abalada pela pandemia de coronavírus, que provocou a pior crise econômica em uma década nas Filipinas. Além de provocar milhares de mortes, a covid-19 deixou milhões de pessoas desempregadas, em meio a uma campanha de vacinação muito lenta.
As dores de cabeça de Duterte aumentaram durante seu último ano no cargo, depois que o Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizou uma investigação por possíveis crimes contra a humanidade durante a violenta guerra contra o narcotráfico.
Apesar de ter repetido de forma incessante que não existia uma campanha para matar ilegalmente consumidores de drogas ou traficantes, em seus discursos ele incitava a violência e afirmou que policiais deveriam matar suspeitos de tráfico de drogas se as suas vidas estivessem em perigo.
"Se você sabe de alguns viciados, vá em frente e mate, pois seria muito doloroso fazer com que os pais deles o fizessem", disse Duterte horas depois de tomar posse como presidente em junho de 2016.
Em outra oportunidade, ele chegou a dizer que Deus é "estúpido", em um país de maioria católica.
O político, que ironiza as sutilezas diplomáticas, chegou com várias horas de atraso a eventos públicos, muitas vezes com a camisa parcialmente desabotoada e as mangas arregaçadas.
O advogado e ex-promotor nasceu em 1945, filho de uma muçulmana e de um ex-governador provincial católico que emigrou do centro para o sul do país em busca de melhores condições de vida.
Antes de chegar à presidência das Filipinas, Duterte foi prefeito de Davao, a terceira maior cidade do país, durante 20 anos.
Os defensores dos direitos humanos o acusam de ter organizado esquadrões da morte que assassinaram mais de 1.400 pessoas, incluindo crianças, durante aquela época, mas Duterte nega.
No plano internacional, seu mandato foi marcado por um distanciamento da ex-potência colonial, Estados Unidos, em favor da China.
"Simplesmente amo (o presidente chinês) Xi Jiping [...] Ele entende meu problema e está disposto a ajudar, assim gostaria de dizer 'obrigado, China'", declarou em abril de 2018.
No âmbito desta aproximação, ele decidiu abandonar as disputas com Pequim pelo Mar da China Meridional, rico em recursos, e decidiu cortejar o gigante asiático em busca de investimentos.