O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou nesta quarta-feira (6) a renúncia de seu primeiro-ministro e de todo o gabinete ministerial, dois meses após ter assumido o cargo.
— Informo ao país que no dia de hoje aceitamos a renúncia do presidente do Conselho de Ministros, Guido Bellido Ugarte, a quem agradeço pelos serviços prestados — declarou Castillo em breve e surpreendente pronunciamento de cerca de três minutos, transmitido pela TV estatal.
O presidente de esquerda evitou dar detalhes da renúncia e anunciou que o novo chefe de gabinete e seus integrantes serão conhecidos a partir das 20h locais (22h de Brasília).
Bellido, um engenheiro sem experiência política de 41 anos, membro da linha-dura do partido marxista-leninista Peru Livre, tinha sido nomeado em 29 de julho para chefiar o primeiro gabinete do governo de Castillo, que pertence ao mesmo partido.
— Quero agradecer e reiterar minha gratidão, respeito pela confiança do presidente Pedro Castillo e por ter assumido o cargo, que acredito ter desempenhado com decoro — declarou Bellido em coletiva de imprensa.
Em sua carta de renúncia, publicada pela imprensa, Bellido indicou que está se afastando do Executivo a pedido de Castillo.
— Não sabemos quais são os motivos. Hoje, o presidente pediu que apresentasse a carta de renúncia e imediatamente cumpri o pedido — completou Bellido, que voltará ao Congresso para exercer funções como parlamentar.
Para surpresa geral, Castillo chegou à presidência, vencendo a candidata da direita, Keiko Fujimori, em um disputado segundo turno em 6 de junho, após uma campanha marcada pela polarização.
Durante seu breve pronunciamento, Castillo reiterou seu apelo aos setores econômicos, políticos e sociais "à mais ampla unidade para alcançar objetivos comuns", como a reativação econômica.
— É hora de colocar o Peru acima de todas as ideologias e posições partidárias isoladas — enfatizou o presidente, um professor rural, que usava seu típico chapéu amplo de palha.
Confrontos com o Congresso
Bellido estava envolvido em confrontos verbais com o Congresso, dominado pela direita, há uma semana, quando a casa interpelou o ministro do Trabalho por sua suposta participação nos atentados terroristas cometidos pelo grupo maoísta Sendero Luminoso há quatro décadas.
Os legisladores tinham previsto apresentar esta semana uma moção de censura contra o titular do Trabalho, Iber Maraví, a quem Bellido e Castillo defendem, negando seu suposto envolvimento em ações subversivas.
A presidente do Congresso, a opositora María del Carmen Alva, expressou sua satisfação com a renúncia e a possibilidade de mudanças no gabinete ministerial.
"Depois de vários dias de desnecessária incerteza e de ministros muito questionados, saudamos a decisão do presidente Castillo de mudar o gabinete ministerial. O Congresso tem a melhor disposição para o diálogo e a governabilidade", tuitou a legisladora.
O controverso passado político de Maraví, líder do sindicato dos professores de 61 anos, é um dos fatores de instabilidade na relação entre o Executivo e o Legislativo.
O clima de tensão tem marcado a relação entre os dois poderes nos dois últimos meses, uma situação que se agravou desde a morte na prisão do líder do Sendero Luminoso, o octogenário Abimael Guzmán, em 11 de setembro.
Congressistas de direita atribuem simpatias do governo de Castillo ao grupo maoista, o que o presidente nega.
O Congresso peruano tinha outorgado em 27 de agosto um voto de confiança ao gabinete de Bellido, permitindo-lhe continuar no cargo.
Mas a incerteza sobre o gabinete continuou, afetando a economia (o dólar se valorizou perante a moeda local, o sol, e a bolsa caiu), após cinco anos de confrontos entre o Executivo e o Legislativo, que levaram o país a ter três presidentes em novembro de 2020.
As disputas entre o novo governo e a oposição custaram o cargo do chanceler Héctor Béjar, um ex-guerrilheiro da década de 1960, apenas 19 dias do início do governo.