A Conferência da Mudança Climática da ONU (COP26) foi aberta neste domingo (31) em Glasgow, Escócia, com a importância de ser uma reunião que representa a "última oportunidade" para limitar o aquecimento do planeta.
A conferência climática COP26 é "a última e a melhor esperança" de limitar o aquecimento global a +1,5ºC, o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris, declarou seu presidente, Alok Sharma, em sua abertura.
Durante a pandemia de covid-19, "a mudança climática não tirou férias. Todas as luzes estão vermelhas no painel climático", acrescentou, pedindo mais ambições no primeiro dia de duas semanas de uma conferência sobre o clima considerada crucial para o futuro da humanidade.
"Se agirmos agora e juntos, podemos proteger nosso precioso planeta", ressaltou.
"A humanidade enfrenta escolhas difíceis, mas claras", disse, por sua vez, Patricia Espinosa, responsável da ONU para o clima.
"Podemos escolher reconhecer que continuar com as coisas como estão não vale o preço devastador que teremos que pagar e fazer a transição necessária, ou podemos concordar em participar de nossa própria extinção", alertou.
No sábado, em Roma, onde participou da cúpula do G20, cujas conclusões serão examinadas para detectar a vontade das principais economias de lutar ativamente contra o aquecimento global, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também soou o alarme.
"Vamos ser claros, há um risco significativo de que Glasgow não cumpra suas promessas", disse ele.
"Alguns anúncios recentes sobre o clima podem ter dado a impressão de um quadro mais positivo. Infelizmente, isso é uma ilusão (...). Se queremos sucesso - e não apenas uma miragem - precisamos de mais ambição e mais ação", insistiu.
O Acordo de Paris visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento bem abaixo de +2°C em comparação com a era pré-industrial, se possível +1,5°C.
Mas com as tendências atuais, os especialistas em clima da ONU (IPCC) alertam para o risco de alcançarmos +1,5°C por volta de 2030, enquanto os compromissos climáticos dos Estados levam a um aquecimento catastrófico de 2,7°C.
Com +1°C, as catástrofes naturais já está em andamento, desde incêndios na Califórnia ou Sibéria até temperaturas recordes no Canadá, passando por inundações destrutivas na China ou na Europa Ocidental.
O impacto das mudanças climáticas já se faz sentir na forma de "inundações, ciclones, incêndios florestais, recordes de temperatura", alertou Sharma.
"Não se trata apenas de meio ambiente, mas de paz, estabilidade", acrescentou Espinosa, que é secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC).
- Ausências -
A abertura da COP26 ocorreu paralelamente ao encerramento da cúpula do G20 em Roma, que ratificou o objetivo comum de atingir a meta de +1,5ºC.
O Reino Unido convidou 130 chefes de Estado e de Governo para expressarem seus objetivos e reivindicações em Glasgow, na segunda e terça-feira.
A pandemia e o grande choque econômico e social que o confinamento acarretou alterou profundamente a mesa diplomática, e alguns atores importantes, como o presidente chinês Xi Jinping ou o russo Vladimir Putin, optaram por não comparecer pessoalmente.
A COP26 é decisiva porque os países devem reforçar seus compromissos de redução de emissões, principal causa do aumento da temperatura média do planeta.
Todos os signatários do Acordo de Paris deveriam, em princípio, ir a Glasgow com seus compromissos atualizados. A China, que emite mais de um quarto dos gases do efeito estufa, revelou seus novos compromissos esta semana.
O governo de Xi Jinping garante que deseja atingir a neutralidade de carbono até 2060. Mas oficialmente a comunidade internacional estabeleceu essa meta para 2050, para que o planeta não entre em um cenário climático imprevisível.
Comprometer-se com datas, regras de controle mutuamente vinculativas, ser transparente na luta contra as mudanças climáticas, são outros dos objetivos de Glasgow.
Além disso, receberá grande atenção o compromisso dos países industrializados em ajudar os países pobres com 100 bilhões de dólares anuais.
Esses 100 bilhões já deveriam estar sendo pagos desde 2020. Ainda faltam 20 bilhões, segundo cálculos do clube dos países ricos, a OCDE, mas Canadá e Alemanha anunciaram um compromisso para que os países ricos normalizem a situação até 2023.
Há também um acordo sobre mercados de carbono, um mecanismo complexo para os países trocarem cotas de emissões.
"As negociações técnicas foram poucas e difíceis de organizar online" durante a pandemia, explicou Lola Vallejo, especialista do centro de análises francês Iddri.
"Mas o verdadeiro problema parece ser político. O Brasil, principal país que bloqueia a questão, quer garantias de que haverá incentivos financeiros para preservar a floresta amazônica", acrescenta.
Finalmente, os ministros do Meio Ambiente ou especialistas de cada país deverão desenvolver as regras que foram brevemente anunciadas no Acordo de Paris de 2015.
O campus da universidade de Glasgow, onde a COP26 é realizada, está sob forte segurança. E a próxima semana promete ser recheada de manifestações e ações de grupos ambientalistas.
* AFP