Acusado por seu polêmico ex-assessor Dominic Cummings de financiar a reforma de seu apartamento oficial com doações privadas, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson negou nesta quarta-feira (28) qualquer infração, após a abertura de uma investigação uma semana antes de eleições cruciais.
Em 6 de maio o Reino Unido terá eleições regionais e municipais, que representam o primeiro teste nas urnas para os conservadores de Johnson desde a plena entrada em vigor do Brexit, no início do ano, e do terremoto provocado pela pandemia de coronavírus.
O governo é alvo há algumas semanas de uma série de escândalos sobre lobby e influências empresariais, baseados em diversos vazamentos.
O controverso Cummings, estrategista político da campanha pró-Brexit e o assessor mais influente de Johnson até sua demissão repentina em novembro, foi apontado por alguns meios de comunicação como fonte dos vazamentos. Na sexta-feira (23) ele se defendeu com um ataque devastador em seu blog contra Johnson, ao questionar a competência e integridade do chefe de governo.
Entre outras coisas, ele afirmou que o primeiro-ministro reformou seu apartamento oficial em Downing Street com dinheiro de doadores do Partido Conservador, o que o governo negou de modo veemente.
Um porta-voz do Executivo afirmou que, além do orçamento governamental atribuído à manutenção, as obras — que custaram 200.000 libras (US$ 277 mil), segundo a imprensa — foram pagas por Johnson.
Mas ele não revelou se o primeiro-ministro recebeu um empréstimo, nem se inicialmente foram utilizados fundos do partido. A imprensa britânica informou sobre uma contribuição de 58.000 libras (US$ 80 mil) de um doador que não teria sido comunicada à Comissão Eleitoral, como exige a lei.
Depois de avaliar as informações fornecidas pelo Partido Conservador, a Comissão Eleitoral anunciou a abertura de uma investigação.
"Há motivos razoáveis para suspeitar que uma ou mais infrações podem ter sido cometidas. Portanto, vamos proceder com uma investigação formal para determinar se aconteceu", afirmou a Comissão.
O anúncio foi feito pouco minutos antes da sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, que Johnson aproveitou para se defender das críticas da oposição trabalhista.
— Fui eu que paguei as despesas (...) e posso dizer que cumpri integralmente o código de conduta ministerial — afirmou.
Revelações comprometedoras
No atual contexto, o Executivo anunciou nesta quarta-feira a nomeação de um assessor, Christopher Geidt, ex-secretário da rainha Elizabeth II, que terá a missão de garantir o cumprimento do código de conduta ministerial.
"O primeiro-ministro e Lorde Geidt concordaram que o Lorde Geidt começará pela comprovação dos fatos que cercam a reforma do apartamento de Downing Street e informar o primeiro-ministro de qualquer outra declaração de interesse", anunciou o governo.
Além das suspeitas sobre a reforma de sua residência, Johnson também foi alvo de outras revelações comprometedoras, como a de ter pronunciado uma frase chocante para criticar em outubro um possível novo confinamento contra o coronavírus.
O tabloide Daily Mail afirmou na segunda-feira (26) que em uma reunião no fim de outubro, Johnson teria declarado que preferia ver "corpos empilhados aos milhares" do que impor um novo confinamento.
O jornal, que não revelou sua fonte, afirma ainda que Cummings guardou gravações de áudio e um registro escrito das reuniões importantes.
Downing Street e o próprio Johnson negaram a frase, mas vários meios de comunicação afirmaram que receberam confirmações de fontes anônimas.
O líder conservador britânico é alvo de duras críticas desde o início da pandemia, há mais de um ano, primeiro acusado de demorar para adotar medidas e depois de desperdiçar o dinheiro dos contribuintes no fornecimento de equipamentos de proteção sem licitação.
E recentemente de ter contatos diretos com importantes empresários como James Dyson, a quem teria prometido mudanças fiscais em troca da fabricação de respiradores para hospitais no Reino Unido, um dos países mais afetados da Europa, com mais de 127.000 mortes por covid-19.