Pelo menos 18 pessoas morreram e outras 30 ficaram feridas no domingo (28) durante repressão aos protestos contra o golpe militar em Mianmar. O balanço foi divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas relatos apontam que o número de vítimas pode ser superior.
Após quase um mês de mobilização pró-democracia, com manifestações diárias e uma campanha de desobediência civil, a resposta das autoridades foi especialmente sangrenta no domingo. O país vive um golpe desde 1º de fevereiro, data em que os militares tomaram o poder e começaram a deter membros do governo, incluindo a líder civil Aung San Suu Kyi e o presidente, agora deposto, Win Myint. Ambos são acusados de cometer infrações legais.
"A polícia e as forças militares confrontaram manifestações pacíficas, usando forças letais que, de acordo com informações recebidas pelo escritório de Direitos Humanos, resultou em pelo menos 18 mortos e mais de 30 feridos", afirmou o escritório da ONU.
Centenas de manifestantes se recusaram a deixar as ruas no começo da tarde em Yangon, a maior cidade do país. Barricadas foram levantadas por alguns deles, enquanto outros cantavam músicas de protesto e gritavam palavras de ordem.
— A polícia começou a disparar assim que chegamos. Não teve aviso. Alguns manifestantes ficaram feridos e outros se esconderam nas casas de moradores — disse à AFP Amy Kyaw, que participou do protesto.
Três manifestantes foram mortos em Dawei, no sul do país, após serem alvos de "munição letal", segundo um socorrista. Moradores saíram às ruas da cidade costeira na manhã desta segunda-feira (1º) para colocar flores vermelhas e acender velas em frente aos retratos das vítimas.
— O exército birmanês é uma organização terrorista — disse o proeminente ativista Thinzar Shunlei Yi no Facebook.
As ondas de prisões também continuam no país. Mais de 1,1 mil pessoas foram presas, acusadas ou condenadas desde o golpe. Uma mídia oficial relatou 571 prisões apenas no domingo. Nos últimos dias, vários jornalistas foram presos, incluindo um fotógrafo da agência Associated Press.
O exército não respondeu aos pedidos de comentários da AFP, mas a mídia estatal advertiu que "medidas severas serão inevitavelmente tomadas" contra "multidões anárquicas".
O uso de armas letais pela polícia e pelo exército contra manifestações pacíficas, em sua maioria, gerou uma nova onda de protestos internacionais. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, condenou no Twitter a "violência abominável das forças de segurança birmanesas".
"O uso de força letal (...) e as prisões arbitrárias são inaceitáveis", declarou, por sua vez, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Dias antes, o embaixador birmanês na ONU, Kyaw Moe Tun, rompeu com os generais golpistas, pedindo o "fim do golpe militar" e o "retorno do poder do Estado ao povo". Ele foi destituído pela Junta.
Os numerosos protestos internacionais e o anúncio de sanções por parte dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), no entanto, não foram capazes de influenciar os militares.
— O mundo deve intensificar sua resposta. Palavras de condenação são bem-vindas, mas não são suficientes — comentou o relator especial da ONU, Tom Andrews, explicando que nesta segunda publicaria uma lista de opções que proporá ao Conselho de Segurança.