O Exército determinou nesta quinta-feira (4) o bloqueio do acesso ao Facebook, ferramenta essencial de comunicação em Mianmar, três dias depois de um golpe de Estado que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, enquanto os apelos para resistir continuam.
O Exército pôs fim à frágil transição democrática do país na segunda-feira (1º), impondo o estado de emergência por um ano e prendendo Suu Kyi e outros líderes de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND). A dirigente, de 75 anos, foi acusada de ter violado uma norma comercial.
No Facebook, rede social muito popular no país, foram criados grupos que convocam a "desobediência civil". A norueguesa Telnor, um dos principais provedores de telecomunicações do país, confirmou que as autoridades deram ordem para "bloquear temporariamente" o Facebook.
A empresa norte-americana informou que alguns de seus serviços foram "perturbados" e pediu às autoridades que "restabeleçam a conexão", disse uma porta-voz da plataforma.
— Não acreditamos que esta medida (...) esteja em conformidade com o direito internacional — acrescentou.
Nesta quinta-feira, centenas de apoiadores do Exército se reuniram na capital. "Não queremos mais traidores nacionais vendidos a países estrangeiros" e "Tatmadaw (as Forças Armadas) amam o povo", mostravam faixas e cartazes.
Não muito longe dali, 70 deputados do LND assinaram um "compromisso para servir ao povo" e organizaram uma sessão simbólica para denunciar a tomada do Parlamento.
Nas ruas, multiplicam-se os sinais de resistência ao golpe de Estado, condenado pela ONU e por muitos governos ocidentais. Mas o medo de represálias persiste neste país que viveu sob uma ditadura militar por quase 50 anos desde sua independência, em 1948.
Negociações na ONU
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que faria todo possível para garantir que a comunidade internacional "exerça pressão suficiente" sobre Mianmar para garantir o "fracasso" do golpe.
Em uma entrevista ao jornal The Washington Post, ele considerou "absolutamente inaceitável mudar os resultados das eleições e a vontade do povo". Guterres também lamentou que o Conselho de Segurança não tenha conseguido chegar a um acordo, na terça-feira, a respeito de uma resolução sobre Mianmar.
Para ser adotada, a resolução precisa do apoio da China, que tem direito de veto nesta instância das Nações Unidas, mas Pequim continua sendo o principal apoiador de Mianmar na ONU.
Durante a crise dos rohingyas, a China obstruiu todas as iniciativas, por considerar que o conflito é um assunto interno de Mianmar. Já Estados Unidos e União Europeia (UE) planejam impor novas sanções ao país, enquanto o Reino Unido condenou, hoje, "a prisão e a acusação" de Aung San Suu Kyi.