A médica brasileira Adriana Giglio já sabe qual a primeira coisa que fará quando o aeroporto de Tel-Aviv reabrir: comprar uma passagem para o Brasil, para visitar a família que não vê há um ano e meio.
— Quero ver meu pai, meu cachorro, meus amigos. A gente que mora fora sempre sabe quando vai voltar, quando alguém vem visitar. É normal marcar uma passagem para alguns meses, mas a pandemia impediu isso — conta. — Prometi que assim que tomasse a vacina, eu iria. Agora, estou esperando o aeroporto abrir.
No começo de março, Israel se tornou a primeira nação do mundo a ter aplicado mais doses de vacina contra a covid-19 do que o total da população. E, à medida que a vacinação acelera, o país deu o maior passo de sua reabertura e agora se prepara para a quarta disputa eleitoral em menos de dois anos.
Comer dentro e fora de restaurantes – para quem tem o "passaporte verde" da imunização – agora é de novo uma realidade, assim como visitas a hotéis e centros de eventos. Reuniões de mais de 20 pessoas em locais fechados e de até 50 em áreas abertas voltaram a ser permitidas. E comícios políticos para as eleições atraíram centenas de eleitores.
Ir para o escritório da startup onde trabalha em Tel-Aviv foi a maior mudança na rotina da brasileira Elisa Bloch. Ela trabalhou de casa por um ano e foi no escritório menos de 10 vezes no período. Ela também planeja encontrar mais amigos e tem o mesmo desejo de Adriana.
— Só penso em visitar a família no Brasil, mas tenho medo de ir e ficar presa. Alguns países podem fechar as fronteiras com o Brasil — diz a arquiteta, de 27 anos.
Agora, Elisa retoma aos poucos a normalidade. Foi pela primeira vez a um restaurante – ainda comendo na calçada, de forma improvisada.
— É uma sensação de normalidade — comenta ela, que planeja se inscrever em aulas de pilates e em um curso de hebraico presencial.
Professor de relações internacionais da USP especializado em Israel, Samuel Feldberg afirma que a rapidez da vacinação é fruto da logística, do sistema de saúde digitalizado e dos esforços do governo.
— É uma preocupação que começou lá atrás com as providências necessárias para obter as vacinas — disse.
A dimensão de Israel – menor que o menor Estado brasileiro de Sergipe –, testes em massa e gratuitos e uma população de 9 milhões de habitantes também são fatores-chave. No entanto, todas as pessoas ouvidas pela reportagem destacaram o papel do premier, Benjamin Netanyahu. Apesar das manobras para continuar no poder e das acusações de corrupção, ele mobilizou a população.
— É claro que tem um componente político, mas ele levanta a bandeira, se voluntariou e é a favor da vacina — afirmou.