O presidente Yoweri Museveni, no poder na Uganda desde 1986, foi reeleito para um sexto mandato com 58,64% dos votos, anunciou neste sábado (16) a comissão eleitoral, depois que seu principal adversário, Bobi Wine, denunciou fraudes nas eleições.
Wine obteve 34,83% dos votos, segundo a comissão, que estabeleceu a participação em 57,22% nessas eleições realizadas na quinta-feira em meio a grandes medidas de segurança.
Paralelamente, os resultados parciais das eleições legislativas, organizadas no mesmo dia que as presidenciais, demonstram que a Plataforma da Unidade Nacional (NUP), partido de Wine, está prestes a se tornar o principal partido da oposição no parlamento.
A NUP ganhou oito dos nove distritos da capital, Kampala.
As eleições aconteceram após uma campanha particularmente violenta, caracterizada pelo assédio e pela prisão de membros da oposição, ataques contra a imprensa e a morte de, pelo menos, 54 pessoas em distúrbios após a enésima detenção de Wine, cuja campanha foi prejudicada em grande parte em nome das restrições contra a covid-19.
As eleições ocorreram em uma calma aparente na quinta-feira, mas sob a forte e opressiva presença da polícia antidistúrbios e militares, e com uma interrupção da internet no pano de fundo.
Wine contestou os resultados das eleições já na sexta-feira, denunciando uma "farsa absoluta" e estimndo ter "ganhado amplamente" a eleição.
O ex-cantor de raggamuffin, que animou grande parte da juventude ugandesa, denunciou por exemplo que houve cédulas de votação pré-preenchidas, eleitores que não as receberam e agressões contra os observadores de seu partido, às vezes expulsos dos colégios eleitorais.
O partido de Wine, a Plataforma da Unidade Nacional (NUP), não descarta a possibilidade de manifestações, como durante a campanha eleitoral.
"As pessoas estão indignadas porque roubaram seu voto. Não precisam de mim nem de Bobi para pedir que se indignem", disse à AFP o porta-voz do NUP, Joel Ssenyonyi. "E nós não podemos controlá-los", acrescentou.
- "Profundamente preocupado" -
O departamento de Estado dos Estados Unidos se declarou no sábado "profundamente preocupado" com as informações sobre a violência e as irregularidades da eleição ugandesa.
"Estamos profundamente preocupados pelas inúmeras informações confiáveis que falam da violência das forças de ordem durante o período pré-eleitoral e das irregularidades durante as eleições", escreve a porta-voz Morgan Ortagus em nota.
Antes do anúncio dos resultados, Museveni alertou a população que o ato de impugnar violentamente a eleição seria considerado uma "traição".
A polícia recomendou aos ugandeses que não saíssem de casa para comemorar ou questionar os resultados, invocando as medidas de combate à covid-19, as mesmas que foram usadas durante a campanha para impedir as reuniões da oposição.
Três quartos dos 44 milhões de ugandeses têm menos de 30 anos e não tiveram outro presidente sem ser Museveni.
* AFP