O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, 78 anos, foi reeleito para um polêmico terceiro mandato com 94,27% dos votos no primeiro turno das eleições que foram boicotadas pela oposição, de acordo com os resultados anunciados nesta terça-feira.
As eleições aconteceram em um ambiente de grande tensão e quase 40 pessoas morreram no país desde agosto, nove delas no sábado passado, vítimas de violência política.
A oposição, que não reconhece Ouattara como presidente, anunciou que vai formar um governo de transição, o que provoca o temor de novos confrontos no país, o maior produtor mundial de cacau e que está em uma região afetada pelos ataques jihadistas no Sahel.
O anúncio da oposição levou o governo marfinense a acusar o grupo de "conspiração contra a autoridade do Estado".
"O governo pediu ao procurador público de Abidjan que os autores e cúmplices desses crimes sejam levados à justiça", afirmou o ministro da Justiça, Sansan Kambile.
Os resultados proclamados pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) nesta terça-feira mostram que a taxa de participação foi de 53,90%.
"Alassane Ouattara foi eleito presidente da República", declarou o presidente da CEI, Ibrahime Coulibaly-Kuibiert, depois de anunciar os resultados.
O candidato independente Kouadio Konan Bertin ficou em segundo lugar, com 1,99% dos votos, à frente de dois candidatos que convocaram o boicote, o ex-presidente Henri Konan Bedie (1,66%) e o ex-primeiro-ministro Pascal Affi N'Guessan (0,99%).
As tensões começaram na Costa do Marfim em agosto, quando Ouattara defendeu que a aprovação de uma nova Constituição em 2016 permitia sua terceira candidatura, apesar de a Carta Magna estabelecer um limite de dois mandatos.
Os principais candidatos da oposição optaram por não fazer campanha. Eles consideraram a terceira candidatura de Ouattara um "golpe de Estado eleitoral".
A oposição pediu no domingo uma "transição civil e a mobilização geral dos marfinenses para deter a ditadura e o abuso de poder do presidente".
O partido governista respondeu com uma advertência contra "qualquer tentativa de desestabilização".
A Costa do Marfim foi cenário de uma grave crise pós-eleitoral entre 2010 e 2011, período em que morreram quase 3.000 pessoas e que foi provocada pela recusa do então presidente Laurent Gbagbo de abandonar o governo e transferir o poder para Ouattara.
Após as eleições de sábado, a tensão aumentou no país e quatro pessoas da mesma família morreram no domingo em um incêndio em uma casa na cidade de Toumodi (centro).
Ao menos nove pessoas faleceram durante vários incidentes no fim de semana, de acordo com um balanço parcial da AFP.
A ONU expressou nesta terça-feira preocupação com o fluxo de 3.200 cidadãos da Costa do Marfim que fugiram para outros países para escapar da violência.
Os refugiados, em sua maioria mulheres e crianças, entraram na Libéria, Gana e Togo, procedentes da Costa do Marfim, afirmou a Agência das Nações Unidas para os Refugiados.
* AFP