A apuração dos votos das eleições presidenciais e legislativas prosseguia na Tanzânia nesta sexta-feira (30), onde o presidente John Magufuli e seu partido, o CCM, estão prestes a varrer nas urnas uma oposição já oprimida nos últimos cinco anos e que denuncia fraude no pleito.
Segundo a televisão nacional TBC, os resultados de 219 distritos publicados pela Comissão Eleitoral (NEC) atribuem 85% dos votos a Magufuli, 61 anos.
No poder desde a independência do país, o Partido da Revolução (CCM) já garantiu maioria absoluta no Parlamento. Os resultados anunciados até o momento indicam apenas duas cadeiras para a oposição, e o restante, para a formação governista.
As 100 cadeiras reservadas às mulheres e ocupadas por cada partido de modo proporcional a seus resultados, os cinco deputados eleitos para representar no Parlamento o arquipélago semiautônomo de Zanzibar e os até dez deputados que podem ser nomeados pelo chefe de Estado não mudarão em nada o equilíbrio de poder.
Várias figuras do Chadema (Partido pela Democracia e o Progresso), principal sigla da oposição, perderam em seus redutos históricos, incluindo o presidente do partido, Freeman Mbowe, deputado há 20 anos e líder da oposição parlamentar durante a última legislatura.
Também foi derrotada Halima Mdee, líder da divisão feminina do Chadema e crítica do presidente Magufuli. Ela foi detida por algumas horas no dia das eleições, depois de denunciar a descobertas de urnas repletas de "cédulas já marcadas" a favor de seu adversário do CCM em sua circunscrição.
John Magufuli, de 61 anos, conhecido como "Bulldôzer", parece ter assegurada uma reeleição tranquila para o segundo mandato. Ele já conta com a maioria absoluta em quase 160 circunscrições, cujos resultados foram anunciados pela Comissão Eleitoral (NEC).
Seu principal adversário, Tundu Lissu, um advogado de 52 anos, rejeitou na quinta-feira de maneira antecipada os resultados das eleições, que aconteceram na quarta-feira na parte continental e em Zanzibar. Juntos, estes dois territórios formam a República Unida da Tanzânia, de quase 58 milhões de habitantes.
"Isto não foi uma eleição, e sim a obra de um grupo que decidiu permanecer no poder custe o que custar", acusou Lissu, que chamou os resultados de "ilegítimos".
"A mudança democrática não é possível na Tanzânia", lamentou, denunciando uma "fraude eleitoral de alcance sem precedentes".
A embaixada dos Estados Unidos na Tanzânia citou "afirmações confiáveis sobre importantes fraudes e intimidações" em um comunicado publicado na quinta-feira. O texto afirma que "as irregularidades e as vitórias com diferenças consideráveis provocam sérias dúvidas sobre a credibilidade dos resultados anunciados".
A Tanzânia não autoriza recorrer à Justiça contra os resultados das eleições presidenciais - um procedimento possível para as legislativas.
Diante desse cenário, Lissu convocou seus partidários para manifestações "democráticas e pacíficas" e pediu o apoio da comunidade internacional. Até o momento, não foi observado nenhum movimento de protesto nas ruas.
* AFP