Quase um ano após a renúncia do presidente socialista Evo Morales, os bolivianos votam neste domingo (18) para escolher um novo mandatário em meio a um clima polarizado, com a economia afetada pela pandemia e temores de outra convulsão social.
Pela primeira vez em duas décadas, o ex-presidente não está na disputa eleitoral da Bolívia, depois de deixar o cargo em 10 de novembro do último ano em meio a uma crise desencadeada por denúncias de fraude em uma eleição em que disputava o quarto mandato, além de perder o apoio dos militares.
Morales pediu que o resultado das eleições deste domingo "seja respeitado por todos".
— É muito importante que todas e todos os bolivianos, além dos partidos políticos, recebam com tranquilidade cada um dos votos, tanto nas cidades como nas áreas rurais, e que o resultado das eleições seja respeitado por todos — ressaltou o ex-presidente em declaração lida diante da imprensa em Buenos Aires, onde está refugiado. — A prioridade, exclusivamente, é a recuperação da democracia. Não caiamos em nenhum tipo de provocação.
Há um ano, o país enfrentou violentos confrontos nas ruas após o primeiro turno das eleições, em 20 de outubro de 2019.
— Não sei ao certo o que vai acontecer, tenho medo de que o pior aconteça. Há comentários políticos que nos assustam — disse Virginia Luna, 41 anos, no colégio eleitoral Agustín Aspiazu em La Paz, onde chegou muito cedo para votar.
Neste país - que possui 41% de população indígena -, desde o amanhecer as pessoas faziam fila, sentadas e cumprindo o distanciamento físico, como é o exemplo do município de Huarina, situado às margens do Lago Titicaca, a 70 quilômetros de La Paz.
Para os 7,3 milhões de eleitores, os centros eleitorais abriram às 8h e vão encerrar as atividades às 17h, e estão sob guarda militar e policial, assim como cumprem medidas sanitárias adotadas para evitar a propagação do coronavírus. Os primeiros resultados devem ser divulgados uma hora depois.
Os candidatos favoritos são o economista Luis Arce, do Movimento ao Socialismo de Morales (MAS), e o ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005), da Comunidade Ciudadana, segundo colocado nas eleições de 2019. Responsável pelo "milagre" econômico de Morales (2006-2019), é muito provável que Arce vá ao segundo turno com Mesa em 29 de novembro.
Por causa da pandemia, a campanha foi realizada principalmente nas redes sociais, embora tenham ocorrido alguns confrontos isolados nas ruas entre militantes pró e anti-Evo.
— É o fim de um ciclo do governo de Evo Morales e da crise política. Espera-se começar um processo de fortalecimento das instituições — observou o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Católica Boliviana, em comentário à AFP.
Arce garantiu neste domingo que seu partido chegará ao poder na Bolívia por meios democráticos, e não pelas armas, após criticar a suspensão da divulgação dos resultados preliminares pela Justiça Eleitoral.
— Não tomamos o poder com armas, tomamos o poder por essa via democrática — afirmou Arce, após votar em um colégio eleitoral na área central de La Paz.
O país andino vive a maior crise econômica em quase 40 anos, com previsão de retração de 6,2% do PIB em 2020. As eleições também terminarão as atividades do governo de transição da presidente interina de direita, Jeanine Áñez, que deixou a corrida eleitoral após ser criticada por sua gestão da pandemia, com mais de 8,4 mil mortos e 130 mil casos.