O número mais recente do Charlie Hebdo, que volta a publicar as caricaturas de Maomé que transformaram o semanário satírico em alvo de um atentado jihadista em 2015, esgotou-se no primeiro dia e está sendo reimpresso. A informação foi anunciada pela revista.
Publicada na quarta-feira (2), com o título "Tudo isto (o atentado) por isso (as caricaturas)", a edição tinha 200 mil exemplares — três vezes acima do volume habitual. Outros 200 mil serão disponibilizados a partir de sábado (5) nas bancas.
O semanário tomou a iniciativa por ocasião do início do julgamento do atentado que, em 7 de janeiro de 2015, matou 12 colaboradores da revista, assassinados por dois irmãos jihadistas na sede parisiense da publicação. A intenção do semanário é demonstrar que "nunca se renderá ou renunciará" à liberdade de publicação.
Para o chargista Juin, que passou a integrar a redação após o massacre, o sucesso da edição "mostra que temos apoio, que a liberdade de expressão, o laicismo, o direito à blasfêmia não são valores obsoletos e que são defendidos pelos franceses que (o) compraram".
As 12 caricaturas de Maomé foram publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten em setembro de 2005 e depois pelo Charlie Hebdo em 2006. Os desenhos mostram o profeta com uma bomba na cabeça, ao invés de um turbante, ou armado com uma faca, ao lado de duas mulheres com véu.
Além das caricaturas, a capa da nova edição do Charlie Hebdo reproduz o desenho do profeta feito pelo chargista Cabu, assassinado no atentado de 2015.
— Partimos do princípio de que algumas pessoas não conheciam as caricaturas, algumas não haviam nascido quando foram publicadas por Charlie em 2006 e tinham que compreender por quê os assassinatos foram cometidos em 2015 — disse Juin.
O julgamento pelos atentados de janeiro de 2015 contra o semanário satírico e um supermercado de produtos kosher, que deixaram 17 mortos, começou na quarta em Paris. Quatorze pessoas são acusadas de fornecer apoio logístico aos três autores materiais dos ataques, que morreram em confrontos com as forças de segurança.
Principal acusado declara inocência
Durante a audiência desta sexta-feira (4), Ali Riza Polat, acusado de "cumplicidade" nos crimes terroristas dos irmãos Saïd e Chérif Kouachi e de Amédy Coulibaly, afirmou que é inocente.
— Queria dizer que sou inocente dos atos que me acusam. Estou aqui por culpa de certas pessoas, denúncias de mitômanos que falaram bobagens (...) Delatam, mas mentem — afirmou o franco-turco de 35 anos, amigo de Coulibaly, que matou quatro judeus durante uma tomada de reféns no supermercado de produtos kosher e assassinou uma policial em Paris.
Ali Riza Polat é suspeito de ter desempenhado um papel central nos preparativos dos atentados, em particular no fornecimento do arsenal utilizado pelos criminosos, algo que ele nega.
— Paguei por minha amizade com Amédy. Me desvinculo do que fez, ele fez algo estúpido — disse.
Nascido em Istambul, Polat chegou a França com três anos e cresceu no subúrbio de Paris, onde, aos 22 anos, conheceu Coulibaly.
— Não é um amigo de infância — insistiu.
Como os demais acusados, ele nunca foi condenado por atos de terrorismo.