A União Europeia (UE) declarou, nesta quarta-feira (19), que está "ao lado" dos bielorrussos e rejeitou o resultado da eleição presidencial que deu a vitória a Alexander Lukashenko, que por sua vez ordenou às forças de segurança que atuem para evitar "distúrbios".
A crise em Belarus foi tema de uma cúpula extraordinária da UE, ao final da qual o presidente do Conselho Europeu (braço executivo do bloco), Charles Michel, prometeu sanções adicionais contra um número "substancial" de líderes de regime responsáveis por "violência, repressão e fraude eleitoral".
A UE declrou que está "ao lado" do povo bielorrusso, acrescentou Charles Michel, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, garantiu aos repórteres que os 27 não reconhecem o resultado da eleição de 9 de agosto.
Alexander Lukashenko, que governa Belarus há 26 anos, enfrenta protestos diários em seu país desde a eleição, que ele afirma ter vencido com 80% dos votos.
Antes da cúpula europeia, a principal figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, apelou aos europeus para que rejeitassem o resultado "falsificado" da eleição presidencial.
"Pessoas que foram defender seus votos nas ruas de suas cidades foram brutalmente espancadas, presas e torturadas pelo regime que se apega desesperadamente ao poder", disse a opositora de 37 anos, refugiada na Lituânia, considerando que Lukashenko "perdeu toda a legitimidade".
Mas o presidente mantém suas posições. Pelo segundo dia consecutivo, convocou seu Conselho de Segurança e ordenou que as forças de segurança garantam que "não haja mais distúrbios em Minsk" porque "as pessoas estão cansadas, pedindo paz e sossego".
Ele também ordenou o fortalecimento dos controles nas fronteira, justificando que "militantes, armas, munições e dinheiro de outros países estão entrando em Belarus para financiar os distúrbios".
- "Assunto interno" -
Os líderes europeus já haviam instado, na terça-feira, o presidente russo Vladimir Putin a pressionar Lukashenko, de quem é um aliado essencial, para promover o diálogo.
Nesta quarta, Merkel disse que o presidente bielorrusso se recusou a falar com ela por telefone.
Fiel à sua posição, o Kremlin mais uma vez considerou que a crise política em seu vizinho era "um assunto interno" e condenou "tentativas de interferência estrangeira".
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, por sua vez, acusou os europeus de buscarem "interferir", a fim de avançar seus próprios interesses "geopolíticos", vendo na crise "uma luta pelo espaço pós-soviético".
A atitude da Rússia, parceira política, econômica e militar de Belarus, será crucial para o desfecho da crise.
Suas relações atravessam turbulências. Antes da eleição, Lukashenko chegou a acusar mercenários russos de tentarem desestabilizar seu país, mas desde então se aproximou de Putin, para quem ligou várias vezes.
O primeiro-ministro bielorrusso, Roman Golovtshenko, conversou por telefone nesta quarta com seu contraparte russo, Mikhail Mishustin.
- "Transição pacífica" -
A oposição tem se manifestado todos os dias desde a eleição de 9 de agosto e organizou a maior mobilização da história do país no último fim de semana, com 100.000 participantes. Também convocou um movimento de greve que já atinge vários setores importantes do país.
Os manifestantes convocaram nesta quarta-feira outro grande dia de protestos em todo o país para o próximo domingo.
Segundo Svetlana Tikhanovskaia, a oposição formou um "conselho de coordenação" para "facilitar a transição pacífica do poder mediante o diálogo", presidido pela prêmio Nobel de Literatura, Svetlana Alexievitch, uma iniciativa rejeitada por Lukashenko.
O chefe da diplomacia polonesa, Jacek Czaputowicz, recebeu em Varsóvia Veronika Tsepkalo, uma das aliadas de Tikhanovskaia, e seu marido, o opositor Valeri Tsepkalo, e prometeu-lhes apoiar a sociedade civil bielorrussa, segundo um tuíte do Ministério polonês das Relações Exteriores.
Após as eleições presidenciais, quatro protestos foram duramente reprimidos pela polícia, nos quais ao menos três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. Mais de 6.700 pessoas foram detidas, algumas das quais denunciaram torturas.
* AFP