— É contra as liberdades — afirmou Will Horspool nesta terça-feira (30), amargurado, como muitos outros moradores de Leicester, cidade que se tornou a primeira do Reino Unido a retornar ao confinamento devido a um aumento nos casos de coronavírus.
O golpe é duro para a cidade. O resto da Inglaterra se prepara para reabrir bares, restaurantes, cinemas e cabeleireiros no próximo sábado (4). Em Leicester, entretanto, o movimento é o oposto: todas as lojas, exceto de alimentos e farmácias, tiveram que fechar as portas nesta terça-feira e a maioria das escolas fechará na quinta-feira (2).
Horspool, 35 anos, estava se preparando para retomar a normalidade neste fim de semana.
— Eu queria tomar uma cerveja em um pub local — diz, mas agora, ele planeja ir a um café em uma cidade vizinha não afetada pelas novas medidas.
Confrontado com a decisão de reconfinar Leicester, que ele descreve como "autoritária", prevê um retorno dos "bares clandestinos" que existiam durante a proibição.
— As pessoas não querem ser controladas — argumenta.
Dharmesh Lakhani, gerente do restaurante Bobby's, que emprega 20 pessoas, também estava se preparando para reabrir, com medidas preventivas: clientes a dois metros de distância, funcionários com máscaras e desinfetante para as mãos.
— Oito quilômetros ao norte, os restaurantes vão abrir, como eles vão impedir as pessoas de irem? — pergunta, sugerindo que as novas medidas não impedirão a circulação do vírus.
Leicester, uma cidade com cerca de 340 mil habitantes, foi responsável por cerca de 10% de todos os casos de coronavírus no país na semana passada. Houve 944 casos locais confirmados nas últimas duas semanas, anunciou a prefeitura da cidade.
— As pessoas não estão fazendo o que deveriam, há muitas reuniões, vão às compras ou protestam — diz Wendy Green, 56 anos, funcionária de um hospital que está se preparando para testar todos os seus funcionários. — (A pandemia) continuará e depois passará para a próxima cidade, e depois para outra e para toda a Inglaterra.
Embora o ministro da Saúde, Matt Hancock, tenha pedido aos moradores da cidade que fiquem em casa "o maior tempo possível", muitas pessoas percorrem o centro, onde longas filas se formam em frente às agências bancárias. Os cartazes lembram à população sobre a necessidade de lavar bem as mãos e do distanciamento social.
Medidas "dolorosas"
Em entrevista coletiva, o prefeito Peter Soulsby disse estar "muito preocupado com o bem-estar da cidade em geral e com a saúde de seus habitantes, mas também com a economia". Embora as novas medidas sejam "dolorosas" para a população, existe uma "perspectiva realista de que elas serão eficazes", disse. Ele pediu mais informações para determinar a localização exata dos casos e saber "em quais bairros" e até "em quais ruas" o vírus atacou.
As razões para o recente aumento de casos em Leicester, mesmo entre crianças, permanecem incertas. O Sunday Times sugeriu surtos em fábricas de alimentos e multidões do lado de fora dos restaurantes que vendiam comida para viagem.
O anúncio do reconfinamento da cidade ocorre em um momento ruim para o primeiro-ministro Boris Johnson, que na terça-feira anunciou seu new deal, um grande plano de investimento público para reativar a economia britânica, em baixa pela pandemia e pela paralisação.
A oposição trabalhista o acusa de ter demorado a reagir ao surto de Leicester. O líder conservador já foi amplamente criticado por sua forma de administrar a pandemia, que matou mais de 43,5 mil pessoas no Reino Unido, o país mais afetado da Europa.