As recentes altas expressivas nas bolsas de valores — que mostram uma "desconexão" com a contração da economia mundial devido à pandemia de coronavírus — são uma fonte de incerteza e uma ameaça à recuperação, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quinta-feira (25).
Em seu Relatório de Estabilidade Financeira, a instituição alertou que, entre as grandes incertezas que cercam a crise atual, "destaca-se a desconexão entre os mercados financeiros e a evolução da economia real".
Segundo o relatório, muitos mercados se beneficiaram da enorme quantidade de ajuda injetada por vários governos e aumentaram as perspectivas de que a recuperação será rápida, apesar do fato de os dados sobre a confiança do consumidor mostrarem uma realidade mais pessimista.
O FMI emitiu esse aviso depois de publicar, na quarta-feira (24), uma atualização sobre suas perspectivas para a economia mundial, alertando que o mundo experimentará uma contração de 4,9% no Produto Interno Bruto (PIB) global este ano e que a recuperação em 2021 será mais lenta do que o antecipado.
A principal vulnerabilidade identificada pelo FMI é a ameaça sobre a recuperação em caso de "diminuição do apetite por ativos de risco", o que foi beneficiado pelo apoio financeiro fornecido por vários países para combater a crise. A entidade lembrou que os mercados de risco e de dívida sofreram perdas nas primeiras semanas da pandemia, mas vêm ganhando terreno desde então.
Consequências inesperadas
A principal preocupação é que, no caso de quaisquer contratempos — como uma segunda onda de infecções, uma recessão mais profunda do que o esperado ou uma intensificação da agitação social — a recuperação poderá ser comprometida. O FMI observou em seu relatório que o apoio "sem precedentes", através da injeção de liquidez, empréstimos e taxas de juros mais baixas, "amorteceu o impacto da pandemia na economia global e diminuiu o impacto imediato sobre o sistema financeiro".
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, tem defendido consistentemente um apoio maciço aos governos para evitar cair em uma grande recessão, como a da década passada.
O FMI também alertou que a crise do coronavírus pode cristalizar outras vulnerabilidades e que os altos níveis de dívida existentes podem se tornar "incontroláveis", ameaçando a resiliência dos bancos em alguns países. Outro ponto de preocupação citado no relatório são os riscos de que vários mercados emergentes precisem de refinanciamento e que algumas economias podem se ver sem acesso à liquidez.
Tobias Adrian, diretor do Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do FMI, alertou que "os formuladores de políticas precisam estar vigilantes sobre as consequências não intencionais" de fornecer dinheiro fácil.
"Uma vez que a recuperação ganhe um ritmo firme, os responsáveis deveriam resolver urgentemente as fraquezas que podem semear problemas futuros e ameaçar o crescimento a médio prazo", alertou o FMI.