Os protestos motivados pela morte de George Floyd, cidadão negro assassinado por um policial branco em Minneapolis, se intensificaram nesta terça-feira (2) nos Estados Unidos. Há indignação diante da ordem do presidente Donald Trump de reprimir uma manifestação pacífica e a ameaça de mobilizar o Exército. Na madrugada desta quarta-feira (3), cerca de 200 pessoas foram detidas em Nova York, de acordo com a CNN.
Apesar da pandemia do coronavírus, que deixou mais de 100 mil mortos nos Estados Unidos, a morte por asfixia há oito dias de George Floyd, enquanto era imobilizado pelo policial, levou multidões às ruas, nos maiores protestos registrados no país em décadas.
A cinco meses das eleições presidenciais, Trump aumentou as tensões, após ameaçar, na segunda-feira (1°), mobilizar o Exército para impor a ordem. A fala do presidente foi feita quando os protestos começaram a registrar saques em várias cidades.
- Me ofende o fato de que ele esteja disposto a mobilizar os militares - disse Amore, uma estudante do ensino médio de 16 anos, que protestava em Nova York, onde milhares de pessoas saíram às ruas pacificamente nesta terça-feira.
As autoridades da cidade estenderam até 7 de junho o toque de recolher, uma medida que não era usada desde a Segunda Guerra Mundial.
Trump ataca seus adversários
Apesar do toque de recolher, uma multidão permanecia reunida em frente à Casa Branca na noite desta terça.
- Estamos cansados de ver as notícias de que matam pessoas de forma habitual (...) Isto acontece há tempo demais - disse Caleb, um manifestante que participa dos protestos há quatro dias em Washington, onde, na segunda-feira à noite, ocorreram mais de 300 detenções.
A cidade tinha um forte contingente de segurança depois do registro, durante o dia, de manifestações espontâneas em frente ao Capitólio e ao memorial de Lincoln. Dois helicópteros sobrevoavam os atos, enquanto a polícia pedia às pessoas a obedecerem o toque de recolher.
Trump reiterou a ameaça de mobilizar o Exército e afirmou que, na noite passada, Washington "foi o local mais seguro da Terra". O mandatário, que se apresentou como o presidente da "lei e da ordem", também atacou seus adversários e criticou a gestão da segurança em Nova York - onde democratas governam o estado e a cidade -, afirmando que cederam à "escória".
Apesar dos incidentes e das críticas do governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, que disse que a polícia e o município "não fizeram seu trabalho", o prefeito da cidade, Bill De Blasio, se negou a mobilizar a Guarda Nacional, considerando que a polícia podia fazer frente à situação.
Polícia sob investigação
Em Houston, uma cidade com uma importante comunidade negra, onde George Floyd passou a infância, cerca de 60 mil pessoas participaram de uma passeata, segundo o prefeito. Em Minnesota, onde fica a cidade de Minneapolis, as autoridades anunciaram que vão abrir uma investigação sobre os possíveis abusos por parte da polícia nos últimos dez anos.
- Temos que aproveitar este momento para mudar tudo - disse a vice-governadora, Penny Flanagan.
A pandemia cristalizou muitas das desigualdades que a comunidade negra sofre nos Estados Unidos, que vão desde um risco maior de morrer do coronavírus a taxas de desemprego duas vezes maiores que as dos brancos.
A resposta de Trump aos maiores distúrbios em décadas foi criticada por Joe Biden, virtual candidato presidencial democrata nas eleições de novembro.
Em um discurso nesta terça na Filadélfia, Biden disse que os protestos são um "chamado de alerta" e prometeu que, se for eleito, vai lutar contra o "racismo sistêmico". Em um gesto pouco habitual, o ex-presidente republicano George W. Bush fez um apelo ao país para examinar seus "trágicos fracassos" para por fim ao "racismo sistêmico".
Discriminação racial endêmica
Nas redes sociais, a hashtag "Black Out Tuesday" tingiu de preto Twitter, Facebook e Instagram nesta terça-feira, enquanto os protestos se estenderam a outros países com mobilizações na França, em Israel, na Austrália e na Argentina, entre outros.
Em Paris, por exemplo, o protesto foi dedicado a Adama Traoré, um homem negro morto em 2016 ao ser preso.
De Genebra, a Alta Comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse que as manifestações expõem a "discriminação racial endêmica" nos Estados Unidos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou "o assassinato de George Floyd" e expressou seu pesar pelos "atos violentos registrados no contexto das recentes manifestações como reação à violência policial contra afro-americanos" nos Estados Unidos.