O crescente número de casos de coronavírus no Brasil está levando governos vizinhos a se preocuparem com os reflexos da crise brasileira em seus países. No Twitter, o diretor de vigilância da saúde do Paraguai, Guillermo Sequera, afirmou que, "se o Brasil espirra, nós pegamos pneumonia".
A crítica foi publicada na última sexta-feira (1º), quando o Ministério da Saúde local indicou que, dos 67 casos confirmados de covid-19 naquele dia, 63 eram de pessoas que vieram do Brasil.
Em março, o Exército local já havia cavado, a pedido do governo, uma vala na principal rota de entrada para a cidade fronteiriça de Pedro Juan Caballero. A ideia é dificultar que pessoas vindas do Brasil a pé, via Ponta Porã (Mato Grosso do Sul), entrem por ali e circulem. A fronteira para veículos está fechada desde o início da quarentena no país, em 10 de março.
No total, o Paraguai tem 370 casos confirmados de covid-19 e 10 mortos, segundo dados do Ministério da Saúde, números muito mais baixos do que os registrados pelo Brasil — que tem mais de 101 mil infectados e 7.025 mortos até este domingo (3).
Já na Argentina, as províncias de Misiones e de Corrientes, ao norte, estão em alerta. Embora a fronteira esteja fechada para o trânsito comum, caminhões com mercadorias têm permissão para transitar.
Eles entram, deixam um carregamento e levam outro. Em Misiones, há 12 casos confirmados da doença, e um deles é o de um caminhoneiro que, ao retornar de São Paulo, contaminou a mulher. O motorista morreu na Argentina, de acordo com reportagem da agência Associated Press.
Laureano Rodríguez, chefe de Redação do jornal Primera Edición, da cidade de Posadas, capital da província, conta que "as notícias do aumento da doença no Brasil nos alarmam, porque somos uma das portas de entrada do país".
Tanto em Misiones quanto no posto de fronteira mais movimentado entre Brasil e Argentina, o da cidade de Paso de los Libres, a temperatura de cada motorista de caminhão é checada, assim como a de repatriados por via terrestre.
Em entrevista à imprensa local, o presidente argentino, Alberto Fernández, disse que o Brasil o preocupava muito:
— Principalmente o tráfego de caminhões que vêm de São Paulo, onde o nível de infecção é extremamente alto. Para mim, não parece que o governo brasileiro esteja levando a pandemia a sério. Isso me preocupa por causa do povo brasileiro e porque o vírus pode ser carregado para dentro da Argentina.
O embaixador brasileiro na Argentina, Sergio Danese, escreveu um artigo publicado no jornal La Nación, no qual sugere que Brasil e Argentina sejam solidários ao enfrentar a crise. Também afirmou que não era correto "apontar o dedo um ao outro enquanto temos um enorme desafio para superar".
Danese ainda defendeu que o fato de os países serem vizinhos não significa automaticamente que um grande número de casos podem aparecer na Argentina por causa do Brasil.
Para isso, dá exemplos: Portugal tem bem menos infectados que a vizinha Espanha, assim como o Canadá, que compartilha uma extensa fronteira com os Estados Unidos, um dos países mais afetados pela pandemia.
Portugal, no entanto, adotou medidas duras de isolamento devido à precariedade do seu sistema de tratamento intensivo e às terríveis notícias do surto na Espanha e na Itália. Já o Canadá impôs, ainda em março, quarentena de 14 dias obrigatória para qualquer um que chegasse ao país. Quem descumprisse as regras poderia ser multado ou ficar um mês na cadeia.
À época, o primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou que quem não se sentisse seguro para ir ao trabalho deveria ficar em casa. Em 9 de abril, uma pesquisa divulgada pelo instituto Ipsos mostrou que 85% dos canadenses apoiavam medidas de distanciamento social e as punições propostas pelo governo.