Milhões de pessoas na Espanha e na França recuperaram parcialmente a liberdade de circulação nesta segunda-feira (11) com a suspensão das restrições impostas contra a pandemia do coronavírus, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou "vigilância extrema" para evitar uma nova onda de contágios, como na Coreia do Sul e na China.
— Sentia muita falta disto — declarou Jesús Vázquez, um operário de 51 anos, que pediu um sanduíche e uma cerveja no terraço de um bar em Tarragona, Catalunha (nordeste) no primeiro dia da suspensão do confinamento na Espanha, onde, devido à persistência de riscos, parte do país, incluindo Madri e Barcelona, permanecem com restrições.
Na Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia, com 26.744 mortes, embora o número de óbitos esteja em queda, permitem-se reuniões em grupos de até 10 pessoas, sentar-se em terraços com número limitado de pessoas ou ir a lojas sem agendar a visita previamente.
Na França, algumas lojas abriram e milhões de pessoas saíram de casa e voltaram ao trabalho, reativando uma economia que está quase parada há dois meses, mas com medidas de segurança, como o uso de máscaras obrigatório no transporte público.
Mas após vários dias de diminuições recorde nas mortes diárias (70 no domingo), a França teve 263 óbitos em 24 horas, elevando o balanço para 26.643 falecidos, diante do que as autoridades insistiram nas medidas de segurança.
Nos horários do rush nesta segunda-feira, o metrô de Paris ficou quase tão cheio quanto antes do confinamento.
— Será impossível o distanciamento — disse Brigitte, usuária da linha dois, que passa pelo centro da capital francesa.
Extrema vigilância
Desde que emergiu na China em dezembro, a doença causou quase 284 mil mortes e contagiou 4,2 milhões de pessoas em 195 países, segundo o último balanço da AFP, feito com base em fontes oficiais.
A suspensão do confinamento é um sinal de "sucesso", avaliou nesta segunda-feira o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Mas ele advertiu que a volta à normalidade não pode se basear em uma hipotética "imunização coletiva".
No Reino Unido, com 32.065 mortes, o primeiro-ministro Boris Johnson, que inicialmente havia apostado nesta "imunidade de rebanho", foi alvo de duros ataques da oposição e dos sindicatos devido ao plano de desconfinamento anunciado na véspera, o qual qualificaram de "contraditório" e perigosamente "confuso".
A Itália, com 30.739 mortes, segue melhorando e registrou nesta segunda-feira pela primeira vez menos de mil pacientes em unidades de terapia intensiva.
Mas o temor de uma segunda onda ganha força, depois da informação, na China, de cinco novos casos de coronavírus em Wuhan, foco da pandemia, um dia depois de anunciar a primeira infecção em mais de um mês nesta cidade do centro do país.
Em Xangai, o parque de diversões Disneyland voltou a abrir as portas nesta segunda, mas com restrições.
— Passamos dois meses trancadas, era um tédio mortal — disse à AFP uma visitante, acompanhada de uma menina de cinco anos.
A Coreia do Sul, onde a epidemia também estava controlada, registrou nesta segunda 35 novos casos, o maior número em mais de um mês, devido ao aparecimento de um foco em um bairro boêmio de Seul.
Na Alemanha, onde em três cantões foi superada a taxa crítica de 50 novos contágios por 100 mil habitantes, a chanceler Angela Merkel insistiu em que é "muito importante" que as pessoas respeitem as medidas de distanciamento.
No resto do mundo, os olhos se voltam para África, Rússia e Índia. A África do Sul, país mais afetado da África subsaariana, superou os 10 mil casos confirmados, dos quais, 194 mortes.
Na Rússia, onde há mais de 10 mil casos diários, o presidente Vladimir Putin anunciou o fim a partir de terça-feira do período de folgas remuneradas, dando sinais de uma saída "passo a passo" das restrições do confinamento.
— Mas a luta contra a epidemia (do coronavírus) não acaba. O perigo permanece — advertiu.
A Índia, com quase 63 mil casos e mais de 2,1 mil mortes, começou o processo de desconfinamento, mas continua proibindo as viagens entre os estados, assim como voos nacionais e internacionais.